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Stones deram aula de como se faz um show em Coventry

Os Rolling Stones retornaram a Coventry, na Inglaterra, pela primeira vez em 47 anos. O local foi a Ricoh Arena, também conhecida como Ricoh Stadium. Os últimos dois shows da banda na cidade inglesa antes de 2018 aconteceram no Coventry Theatre em 6 de março de 1971, durante a “Farewell Tour”, antes de irem para o sul da França gravar o antológico “Exile On Main St”. Esta se tornou outra marca da “No Filter”, que não está apenas levando os Stones de volta ao Reino Unido, como também está fazendo um resgate da história da maior banda do mundo.

O aniversário de Charlie Watts em Coventry foi homenageado pelos elementos com um dia ensolarado, enquanto isso, no camarim a banda recebia uma visita ilustre, Tony Iommi esteve junto dos Stones em um belo encontro de velhos amigos. Iommi tocou no Rock And Roll Circus, gravado em dezembro de 1968, como parte do Jethro Tull.

O dia de música começou com a presença ilustre da banda de Coventry, The Specials. Os ícones do Ska fizeram a plateia dançar com um grande aquecimento, fazendo o estádio vir abaixo antes mesmo de Mick, Keith, Charlie e Ronnie pisarem no palco. Coventry realmente recebeu um tratamento de gala. Enquanto o equipamento do The Specials ainda estava no palco, outra importante visita, Melanie Hamrick levou o pequeno Deveraux para ver o pai Mick Jagger em turnê.

 

Antes mesmo dos Stones serem anunciados, o aniversariante do dia, Charlie Watts “desceu a mão” na caixa. Aquela noite era dele. O show começou com “Street Fighting Man”, trazendo de volta a abertura que surpreendeu a todos que esperavam “Sympathy For The Devil” no primeiro concerto realizado no London Stadium. “Let’s Spend The Night Together” não retornou para esta apresentação como segunda música do setlist, ao invés da faixa de 1967, a banda optou por “It’s Only Rock ‘N Roll (But I Like It)”, que foi seguida, como em quase todos os shows, por “Tumbling Dice”. Ambas foram muito bem executadas, exceto pelo solo em “Tumbling Dice”, Ronnie Wood se perdeu durante todo o momento que tinha para brilhar com sua Telecaster, se encontrando apenas no final. Mas isso pode ter acontecido por conta de retorno, ou por conta do próprio instrumento de Wood, antes do solo ele olhou para a guitarra como se algo não estivesse certo, o que era? Nunca saberemos. Charlie foi cirúrgico nas viradas que fez ao fim do clássico de 1972, e olhou para o público como se falasse: “Ei, seus filhos da mãe! Eu ainda consigo tocar” – sim, nós sabemos que Watts jamais diria isso. O show continuou com “Paint It Black”, outro grande momento, pelo visto o que estava maltratando a garganta de Mick Jagger nos últimos shows ficou no passado, afinadíssimo nas notas baixas que foram seu ponto fraco no último concerto. Após agradecer aos Specials pelo set, Mick falou sobre a primeira vez que tocaram em Coventry e terminou sua fala maravilhosamente bem dizendo: “Naquele set nós tocávamos um blues e como algumas coisas nunca mudam, vamos tocar um blues para vocês agora”. A escolha tinha que ser “Ride ‘Em On Down”, cover de Eddie Taylor que fez parte do setlist da primeira apresentação da história dos Stones, no Marquee Club.

“Nós tocamos em Coventry pela primeira vez em 1963, no Matrix Ballroom. Que agora um salão de automóveis. Nós também tocamos no Locarno, que agora é uma biblioteca [risos].” – Mick Jagger

A vencedora do song vote foi “Like A Rolling Stone”, o comediante Jagger seguiu brincando com as escolhidas pelo público afirmando que não havia nenhuma garantia de que aquela performance iria funcionar, perguntando a Keith se ele lembrava da canção. Que bela ironia foi a fala brincalhona do frontman antes do cover de Bob Dylan, uma das melhores performances dos Rolling Stones nos últimos anos aconteceu diante do público que estava no Ricoh Stadium. Peter Pan pulou durante quase toda a música e, como sempre, mostrou seus dotes na gaita. Destaque para Darryl Jones, que além fazer muito bem o trabalho de ser o baixista em turnê e estúdio dos Stones, estava com um lindo instrumento que parecia ser um G6128B Thunder Jet Bass – este foi o primeiro show do baixista em Coventry.

“Dead Flowers” foi outro momento de peso durante o show em Coventry, Ronnie “fez as pazes” com a Telecaster que retornou ao palco para um grande solo. E se em 1972, Mick tinha que lembrar Keith quando o refrão mudava de “send me dead flowers by the mail” para “send me dead flowers by the U.S. Mail”, dessa vez foi o vocalista que manteve o primeiro refrão e Richards quem cantou o verso corretamente – apenas uma trívia. “You Can’t Always Get What You Want” foi quase uma experiência espiritual, uma beleza do começo ao fim, o único acontecimento fora do combinado foi o roadie atrasado que não pegou o violão das mãos de Sir Mick Jagger no momento certo, tanto que o vocalista decidiu explorar o palco segurando o instrumento pelo braço por alguns segundos. Ronnie estava dando tudo de si, o melhor solo do clássico de 1969 até agora durante a “No Filter” 2018. Em “Honky Tonk Women”, Mick acabou esquecendo-se do verso “she had to heave me right across shoulder” e repetiu o primeiro verso da música, mas isso não foi nem de longe um problema, outro momento eletrizante do retorno dos Stones à Coventry.

Durante a apresentação da banda, Mick afirmou que dois membros dos Stones passaram seus aniversários em Coventry, Ronnie Wood e Charlie Watts. Ronnie completou 71 anos em 1º de julho, já Watts estava comemorando seus bem vividos 77 anos de idade naquele dia. Wood foi aplaudido, mas aquela data era de fato do grande Charlie Watts, enquanto o baterista se aproximava da plateia, Jagger começou a cantar “Happy Birthday”.

Happy Birthday, Charlie!

 

Keith Richards voltou para a “No Filter” com um vozeirão que coloca no chinelo parte de suas performances em 2017, era justo que o retorno a Coventry tivesse em sua parte do set uma canção ainda não executada em 2018, a escolhida pelo guitarrista foi “You Got The Silver”. Keef nem fez esforço para algumas das notas altas e provou que fala sério quando diz que cada show dos Stones tem que ser melhor que o último. “Happy” foi a segunda da noite na voz de Richards, uma boa performance, o guitarrista voltou adiantado do refrão para os últimos versos, o que não atrapalhou o andamento da música, mas foi percebido por Keith, que levou tudo no bom humor, como é de se esperar.

Com muita “Compaixão Pelo Demônio”, Mick Jagger retornou ao palco trazendo de volta o pomposo terno com calda à interpretação do clássico de 1968. Se a composição de Jagger e Richards teve alguma influência além do livro de Mikhail Bulgákov, não se sabe, mas a banda criou a atmosfera mais sobrenatural para “Sympathy For The Devil” até o momento. Todos tocando com garra, um dos mais enérgicos momentos da noite, Keith acertou em cheio na investida que deu para terminar a canção com um solo que perdurou após Watts tocar na caixa pela última vez durante a faixa que abre o “Beggars Banquet". Jagger entrou semitonando em “Miss You”, mas no decorrer da música manteve a afinação e continuou a apresentação em alto nível, que contou com um dos melhores solos de baixos de Darryl, um dos mais sensuais solos de sax de Tim Ries e uma interação incrível por parte da plateia, que show! “Midnight Rambler” não seria outra coisa senão uma porrada, mas com o clima especial que tomava conta da noite de 2 de julho de 2018, com (quase) tudo dando certo, a execução da velha conhecida dos sets dos Stones parecia ter ganho força extra, pelo menos foi essa a impressão que Ronnie Wood passou no quando solou, nem mesmo a virada feita por Charlie usando apenas o chimbal tirou a força da performance, Wood até arriscou um solo mais melódico por poucos segundos neste show, uma beleza. Não só o solo de Ron, mas a garra de Watts na bateria fez a “Rambler” de Coventry ser ainda mais sensacional. “Start Me Up” foi quase como um grito dos vencedores, após fazerem uma bem sucedida execução de 10 minutos e 28 segundos de “Midnight Rambler”, a música seguinte foi quase um relaxamento, por mais enérgica que faixa de abertura do “Tattoo You” seja. Em seguida, a banda voltava ao trabalho duro com “Jumpin’ Jack Flash”, que foi como um misto das performances do século XXI que como as conhecemos com a tal “energia extra” citada acima. As palavras para definir esse concerto realmente estão se esgotando. Uma maravilha de show.

Show quase completo

Em “Brown Sugar” tudo funcionou, a intro por parte de Keith na Telecaster e por parte de Ronnie na Danelectro ’64, além de uma interpretação marcante de Karl Denson para o solo de sax de Bobby Keys. A imagem de Charlie nos telões era de um garoto na casa dos 70, mantendo o tempo como ninguém para a música que encerra o show antes do bis. Os telões ficam em cor azul enquanto o público espera o retorno das Majestades Satânicas, até que a intro de “Gimme Shelter” é escutada, é Keith Richards trazendo um dos atos mais aguardados da noite. A voz de Sasha Allen está se recuperando bem, mas ainda não está 100%. E isto não é uma crítica, Allen é uma guerreira, não é para qualquer voz se esforçar durante quase duas horas e após todo esse trabalho ainda ter que cantar uma oitava acima de Mick Jagger em “Gimme Shelter”, e ela faz isso muito bem.

Keith entrou com maestria no que é considerado clássico máximo dos Stones. A voz de Mick não ficou mais grave como nos últimos dois shows, o fantasma da garganta inflamada ficou para trás. Em um momento como “(I Can’t Get No) Satisfaction”, tudo que resta é aproveitar ao máximo seus últimos momentos com a Maior Banda do Mundo, e em um show como o de Coventry, os fãs já deviam estar sem fôlego de tantas performances memoráveis. Mal-afortunados os que não estiveram no Ricoh Stadium no último dia 2 – o que inclui o redator desta matéria. Que retorno estupendo ao solo britânico está sendo este. Charlie teve um aniversário e tanto.

Enfim, os Rolling Stones retornaram a Coventry. E em grande forma!

A "No Filter" continua em 5 de junho no Old Trafford Football Stadium, em Manchester.

Foto: Andy Shaw

Setlist: 1. Street Fighting Man 2. It's Only Rock 'N Roll (But I Like It) 3. Tumbling Dice 4. Paint It Black 5. Ride 'Em On Down (Eddie Taylor cover) 6. Like A Rolling Stone (Bob Dylan cover, vote song) 7. Dead Flowers 8. You Can't Always Get What You Want 9. Honky Tonk Women 10. You Got The Silver (Keith) 11. Happy (Keith) 12. Sympathy For The Devil 13. Miss You 14. Midnight Rambler 15. Start Me Up 16. Jumpin' Jack Flash 17. Brown Sugar BIS 18. Gimme Shelter 19. (I Can't Get No) Satisfaction

Foto: The Rolling Stones

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