Exhibitionism: Um retrato extremamente divertido dos Rolling Stones
Traduzido do Telegraph
Texto: Mark Hudson
Até recentemente, a melhor maneira de encontrar com todo tipo de material sobre Rock ’N’ Roll seria através de uma épica série para a TV (assim como o Anthology dos Beatles), um estranho livro escabroso e artigos intermináveis na Mojo. Mas desde a espetacular exibição de Bowie no V&A em 2013 – que teve mais impacto do que qualquer coisa (exceto talvez por sua morte) em lançar o cantor para um nível mais alto de aclamação – agora nós temos uma nova forma potente de examinar nossa ligação musical: Uma exibição de Rock 'N' Roll.
Longe de dar sequência para Bowie, esta, a maior exposição de memorabilia dos Stones já montada, vai viajar o mundo por quatro anos, e a primeira sala cria a suspeita de que estamos em um exercício de satisfação corporativa própria, junto de seu evidente significado cultural, um negócio extremamente lucrativo. Mapas do mundo ascendem para mostrar número de unidades vendidas a cada ano, países visitados e presença do público em concertos, na casa dos milhões.
Tais preocupações são imediatamente dissipadas, no entanto, pelo segundo quarto, uma jornada audio-visual de três minutos de tirar o fôlego pela carreira dos Stones em 40 telas. Uma montagem de constante mudança e imagens se transformando nos leva desde os primeiros anos, passando pelas legendárias prisões por drogas e Altamont (não evitando as coisas ruins) até o dia presente com as maiores platéias, parecendo rolar para fora das telas em nossa direção. Se essa não é menos auto-congratulatória que a primeira sala, o impacto visual sopra tais pensamentos da sua men Eles estiveram em um lugar que, de acordo com a lenda, tudo começou: O apartamento em Edith Grove, Chelsea (não muito longe da Saatchi Gallery), compartilhado por Mick, Keith e Brian Jones no início dos anos sessenta, recriado em todo o seu revoltante esplendor: camas bagunçadas, cigarros apagados em pratos onde ainda restavam comida, um imundo fogão a gás e um mofo terrivelmente convincente nas paredes. A imprensa da época chamava a banda de "animais", e olhando para essa imagem macabra você pode até concordar: não se importe com Altamont, essas pessoas não conseguem ao menos dar uma lavada.
Há uma outra reconstrução soberbamente atmosférica, dos Olympic Studios em Barnes, sudoeste de Londres, durante a gravação de "Sympathy For The Devil", mas em outra parte da exposição leva um mais previsível, se não menos do que elegante, curso, com exposições de fotografias, programas dos shows e outras curiosidades, como diários surpreendentemente completos e alfabetizados de Keith. Sobre um show no Marquee Club em Soho em Janeiro de 1963, ele observa: "Brian e eu postergamos um pouco devido à operação-padrão na central eléctrica." – que elegantemente capturado a sensação da época.
Uma seleção de vídeos introduzidos pelo diretor Martin Scorsese, nos imerge na galopante amoralidade e excesso da banda no final dos anos sessenta e início dos anos setenta. Mesmos seus comentários sendo interessantes, você sai querendo escutar menos dele e ver mais dois filmes como o eletrizante C**ksucker Blues de Robert Frank (tão atrevidos, os próprios Stones suprimiram isso) e o ainda perturbador Gimme Shelter dos Maysles Brothers, no qual um fã foi assassinado em câmera pelos Hell’s Angels.
Um mash-up de vídeos narra a subida ou decida da banda – dependendo do seu ponto de vista – de enérgicos adolescentes corajosos do blues para maliciosos, ricos viajantes, auto-parodistas. Em cada vídeo, os lascivos lábios de Jagger parecem ter crescido. Geralmente, na verdade, parece ser a exposição de Mick. Há uma abundância de Keith e Ronnie Wood se você se der ao trabalho de ler os textos da parede e ouvir as partes de entrevistas nos alto-falantes, e um pouco de Charlie (embora praticamente nada de Brian Jones ou Bill Wyman). Mas é o espírito de Jagger que domina, com sua mistura ainda inescrutável de oportunismo empresarial e enervante energia animal. Foi Jagger quem transformou a maior banda da história em um bem sucedido negócio. Mas sem ele não haveria nenhuma exibição – não haveria nem Rolling Stones, pelos passados trinta anos pelo menos.
Onde a grande conquista da exposição Bowie foi para nos levar dentro da cabeça do maior enigma do Rock, esse show não nos leva perto de entender o que faz os Stones grandes – ou mesmo imaginar se devemos nos importar com o que faz os Stones serem grandes.
No entanto, enquanto a Exhibitionism não conta muito nem mesmo aos menos comprometidos fãs dos Stones sobre o que eles ainda não sabem, ela de fato fornece a mais magnífica barragem multi-sensorial de "coisas" dos Stones que você sempre quis encontrar. O fato de ela ser projetada e iluminada pelas pessoas que fazem os shows traz uma verdadeira lufada do mundo da banda.
Há uma sala inteira sobre o desenvolvimento do logotipo dos lábios e língua, com uma enorme latejante maquete escultural com cores e texturas projetadas. Existem acres sobre os grandes artistas, designers e fotógrafos com os quais eles trabalharam, de Andy Warhol e Richard Hamilton à David Bailey e Gered Mankiewitz, cuja fotografia da era mod foi importantíssima na criação de imagem inicial da banda.
A seção potencialmente maçante de roupas – a qual, sem a presença de animação da banda são apenas um monte de... bem, roupas – do terno de cetim rosa usado por Jagger na lendária gravação de "Brown Sugar" no Top of the Pops para uma capa extraordinária de pena de marabu desenhada por sua falecida namorada L' Wren Scott.
Se a exposição parece se esticar e ficar um pouco fina em alguns lugares, isso é em grande parte devido à disposição da Saatchi Gallery, o que nos leva para fora do ambiente imersivo do show para chegar a diferentes partes do prédio, exigindo o ligamento de seções, como uma sala cheia de gravuras de Warhol, o que não parece ser estritamente necessário.
Finalmente nos encontramos nos bastidores em outro ambiente brilhantemente realizado, cercado por caixas e racks de guitarras, antes de colocarmos os óculos 3D e entrar de cabeça em uma simulação muito alta de um show recente. Em um nível, é uma pantomima grotesca aproximação das performances impecavelmente legais dos anos sessenta vistas em vídeos ao longo da exposição, e confirma a nossa suspeita de que a única razão dos Stones continuarem é simplesmente continuar. Mas nesta fase do processo você vai sentir que suficientemente passou por cima da vontade de dar uma folga para esses geriátricos, multimilionários bad-boys.
Quaisquer que sejam as suas dúvidas sobre os Rolling Stones, essa exibição vai fazer você perceber o quanto você os teve em sua vida, através dos riffs magicamente animadores pulsando pelos alto-falantes, tanto quanto qualquer coisa que você realmente vê. Como Scorsese disse, quando assistiu aos filmes dos Stones ele perceber que a música deles era "uma parte de mim". É um sentimento que vai ecoar durante a caminhada por essa extremamente divertida exibição.
A Exhibitionism está na Saatchi Gallery, em Londres até 4 de Setembro.
Tradução/Adaptação: Marcos Magalhães
Foto: Helmut Newton, 1978