Os Rolling Stones revelam segredos do novo álbum
A banda deixou as canções inéditas para depois e iniciaram as gravações de covers de canções obscuras do blues.
EDNA GUNDERSON: O que o Blue & Lonesome transmite sobre os Stones?
KEITH RICHARDS: Ele encapsula tudo o que nos propusemos a fazer como uma banda. Então, depois de mais de 50 anos, nós finalmente fizemos um álbum que é 100% Blues. Embora, não vamos esquecer, nós levamos "Little Red Rooster" de Howlin' Wolf para o topo das paradas em 1964. Eu sempre quis ser capaz de dizer 'eu passei isso adiante'. Com esse álbum o meu desejo se tornou realidade.
EG: Como esse projeto passou de um álbum autoral para um de covers?
MICK JAGGER: Nós gravamos algumas novas canções, mas foram os covers que venceram. Nós fizemos um blues, depois outro, e então outro. Eu disse 'OK, vamos voltar amanhã e fazer mais'. Este álbum é uma homenagem aos nossos músicos favoritos, pessoas que nos fizeram tocar música. Essa foi a razão pela qual nós começamos a banda. Para a minha geração é o equivalente aos garotos brancos suburbanos fazendo rap. É tão culturalmente distante da sua própria experiência. Nós éramos proselitizadores
do blues. No final, isso é o que ainda estamos fazendo.
CHARLIE WATTS: É muito difícil escrever canções. Aqui, ao invés de polir apenas uma música, você faria três ou quatro. E no dia seguinte você faz outras três. Ninguém se importou com retakes – ele não foi concebido como um álbum.
EG: Como vocês selecionaram as canções para o álbum?
MICK: A primeira foi "Blue & Lonesome". Todos tocaram com muito entusiasmo, como eles realmente queriam. Eu tive que ir para casa e procurar na minha coleção. 'O que nós podemos fazer amanhã?' Eu tentei escolher as que não eram tão familiares para os fãs de blues. Não são as que tocamos de novo e de novo. Eu tentei encontrar as que são um pouco obscuras, para fazer as possivelmente mais variadas escolhas de canções – ritmos diferentes, emoções diferente, sentimentos diferentes, diferentes formas de tempo.
KEITH: Eu simplesmente segui o entusiasmo de Mick. Eu deixei o cara rolar. Eu estava cruzando os dedos para que Mick não ficasse entediado no meio do caminho – 'Estamos gravando blues?' Uma vez que ele começava, era fascinante de assistir. Eu nunca vi ele tão intenso fazendo isso, e acertando e também fazendo com que fosse muito mais parte da banda do que normalmente acontece. Algumas das músicas nós não tocávamos desde a época dos clubes. Foi muito incrível. Sempre que eu pensava se eu podia lembrar como uma certa canção era, eu percebia que eu não precisava. Os meus dedos me lembravam. Tinha aquela linda liberdade sobre isso.
EG: Vocês precisaram reaprender essas músicas, ou a memória passou na frente?
RONNIE: Alguns dos títulos eram novos para mim, como "Ride 'Em On Down". Depois tinham algumas que eu conhecia de ouvido. Outras foram 'me dê o tom e o arranjo e eu estou pronto'. Uma escolha incomum foi "Little Rain" de Little Walter. Eu a uso como canção de ninar para as minha garotas gêmeas.
EG: As quatro canções de Little Walter envolvem muita gaita. Mick, você estava preparado para isso?
MICK: Eu não toco muita gaita na minha vida. Eu sou muito preguiçoso. Se eu soubesse que eu faria isso, eu teria praticado por semanas. Não é um instrumento muito difícil. A única coisa sobre isso, é que não é como uma guitarra ou um teclado onde você vê o que está fazendo. Você não consegue ver os buracos. Você apenas consegue senti-los com a sua língua.
KEITH: Mick está realmente mandando ver neste disco; ele é quem sobrou dos que tocam gaita assim. Muitas pessoas esquecem o músico sério que ele é.
EG: Eric Clapton toca em "I Can't Quit You Baby" e "Everybody Knows About My Good Thing". Como ele subiu a bordo?
RONNIE: Essa foi outra simples reviravolta do destino. Ele estava pertíssimo de nós enquanto estávamos gravando uma de nossas próprias músicas. Nós perguntamos se ele gostaria de tocar em dois covers. As mãos dele estavam doendo naquele tempo. Ele fez uma canção com os dedos e outra com slide. Eu acho que o Eric se sobressai quando ele toca com os Stones. Algo mágico acontece. É o alívio de não ser o líder da banda. Ele ama isso.
EG: No início dos anos sessenta, os Stones popularizaram o blues, apresentando os fãs americanos para sua própria cultura musical. O blues continua sendo um gênero marginalizado. Onde está a plateia para deste álbum?
DON WAS (PRODUTOR): A primeira vez que eu escutei o blues foi pelos Stones. Eu pensei que tinha inventado o blues. Eu acho que vão haver algumas pessoas jovens que não conhecem o blues e vão escutar este álbum e vão querer mais disso. É um tapa de frescor em um mundo de loucura programada.
EG: Vocês considerariam fazer mais canções antigas para uma sequência?
KEITH: Eu faria qualquer coisa contanto que o impulso venha de dentro da banda. Os Stones nunca planejam nada; "Blue & Lonesome" simplesmente aconteceu. Nunca disse que deveríamos fazer um volume dois ou se deveríamos fazer um álbum de country. Com os Stones, as coisas simplesmente acontecem. Se você tiver sorte e os microfones estiverem quentes e se todo mundo estiver dentro, então pegue enquanto você pode.
Entrevista por Edna Gunderson
Foto: Heathcliff O'Malley/Telegraph