Há 53 anos era lançado o álbum “Aftermath”
Em 3 de dezembro de 1965, literalmente após o fim da maior turnê norte-americana já feita pelo Rolling Stones até aquele ponto da carreira, a banda foi para o RCA Studios, em Hollywood, onde começaram a gravar o single “19th Nervous Breakdown” que não faria parte do futuro álbum do grupo, tanto no Reino Unido quanto nos EUA. As canções que entrariam para o disco que veio a ser o “Aftermath” trabalhadas nas sessões que foram de 3 a 10 de dezembro foram “Mother’s Little Helper“, “Think”, “Take It Or Leave It“ e “Goin’ Home”, faixa que foi a primeira na história do Rock And Roll a ultrapassar 10 minutos, teve a versão final gravada ainda em 1965.
“Foi a primeira longa gravação de Rock And Roll. Ela quebrou aquela barreira de 2 minutos. Nós tentávamos fazer singles o quanto nós podíamos porque nós simplesmente gostávamos de deixar a coisa rolar. Dylan costumava construir uma canção por 20 minutos porque é do Folk que ele vem.
Isso era outra coisa. Ninguém sentava para fazer uma faixa de 11 minutos. Quero dizer, ‘Goin’ Home’, só os primeiros 2 minutos e meio da canção foram escritos. Simplesmente aconteceu de nós mantermos a fita rolando, eu na guitarra, Brian na gaita, Bill, e Charlie e Mick. Se tem um piano, é o Stu.” – Keith Richards
A faixa “Goin’ Home” também teve Jack Nitzsche na percussão (pandeiro e maracas), e após a gravação da composição que virou jam, os Stones só entrariam em estúdio novamente bem depois da virada do ano novo, 4 dias após o fim da turnê Austrália de 1966. Em 6 de março, a banda começa a trabalhar (e finaliza no mesmo dia) o próximo single que seria “Paint It Black”, e mandaram de primeira as versões definitivas de “Stupid Girl”, “Under My Thumb”, “Flight 505”, “High And Dry”, “It's Not Easy”, “I Am Waiting” e “What To Do”, além de trabalharem em “Lady Jane” e “Out Of Time”, em um período de sessões que chegou ao fim em 9 de março. Assim como outros artistas da década de 60 na Inglaterra, os Stones não incluíam os singles nos álbuns, e foi assim até o ano de 1967, por conta disso a versão britânica não inclui a clássica ”Paint It Black”. Diferente de “Under My Thumb”, que acabou se tornando um dos maiores clássicos dos Stones, mas nunca foi lançada como single em países de língua inglesa.
Nesse disco, Brian Jones mostrou mais uma vez ser um multi-instrumentista de mão cheia, tocando guitarra, piano, cravo (harpsichord), gaita, koto (instrumento japonês de cordas dedilhadas), dulcimer e percussão. Mas Brian não foi o único a tocar cravo, Jack Nitzsche também foi um dos responsáveis pelo instrumento, Ian Stewart foi outro a contribuir para o álbum com um mesmo instrumento já tocado por Brian, e não poderia ser diferente, nesse disco Ian toca piano e orgão.
“[Brian] continuava fantástico fazendo discos, pois ele era tão versátil. Ele tinha marimbas – que o é o motivo pelo qual você tem marimbas em ‘Under My Thumb’ – ou dulcimer, sitar. Ele meio que perdeu o interesse na guitarra, de uma forma. Mas ao mesmo tempo ele adicionava toda aquela cor, aqueles outros instrumentos e outras ideias. Ele era um músico incrivelmente inventivo.” – Keith Richards
A faixa “Lady Jane” começou a ser escrita após Mick Jagger ler o livro “Lady Chatterley's Lover” de D. H. Lawrence, um trabalho que se refere à genitália feminina como “Lady Jane”, mas Mick afirma que batizou a canção de uma forma totalmente inconsciente em relação ao livro. Mas na época achavam que a inspiração para uma das mais belas canções escritas por Jagger era Jane Ormsby-Gore, filha de David Ormsby-Gore, que era na época embaixador britânico em Washington. Já na parte instrumental, Brian Jones se inspirou em Richard Fariña, compositor norte-americano que o fundador dos Rolling Stones estava escutando com frequência em 1966, o que o levou a tocar o dulcimer em “Lady Jane” e “I Am Waiting”.
“[O RCA Studios] não era tinha tanto balanço como o Chess obviamente, mas era mais comercial. E [Dave Hassinger, o engenheiro de gravação] realmente... ele tinha um bom ouvido, ele tinha bons sons, e nós experimentamos com mais instrumentos.” – Bill Wyman
Brian Jones também toca sitar neste disco, um instrumento que, diferente do dulcimer, o músico já conhecia antes das gravações do “Aftermath”, e mesmo com a criatividade de Jones, no início, “Paint It Black” parecia não estar indo muito longe, mas foi Bill Wyman quem salvou a canção de ser engavetada, aumentando o tempo da canção e usando um som de baixo mais pesado. Já com “Under My Thumb” aconteceu o contrário, de acordo com Bill, a música não estava crescendo em estúdio até Brian introduzir a marimba na composição, com uma base que lembrava “It’s The Same Old Song” dos Four Tops, lançada quase um ano antes.
“Nós estávamos em Fiji por uns 3 dias... eles fazem sitars e todo o tipo de coisas indianas. Sitars são feitos de melancias ou abóboras, ou algo amassado, para que fiquem duras. Eles são muito quebradiços e você tem que ter cuidado em como lidar com eles. O de Brian já estava rachado. E nós tivemos os sitars, nós pensamos em experimentá-los no estúdio. Para obter o som certo em 'Paint It Black', nós encontramos o sitar equipado perfeitamente. Tentamos um violão, mas você não consegue dobrar o suficiente.” – Keith Richards
Por conta da letra em músicas como “Mother’s Little Helper”, “Stupid Girl” e “Under My Thumb”, houve alvoroço sobre o álbum, com questionamentos sobre a banda estar assumindo uma postura machista. Mas exatos 10 anos após o lançamento do LP, Mick Jagger afirmou que tais canções eram feitas de forma muito ingênua e adolescente, e que até se divertia com as reações às composições. Nos anos 80 e 90, o frontman falou novamente sobre “Under My Thumb”.
“’Under my thumb, there's a girl who once had ME down’. Então toda a ideia era de que ela – e eu estava abaixo dela, ela estava ‘me chutando’ por aí. Então, toda a ideia é absurda, tudo o que eu fiz foi virar a mesa. Então algumas mulheres entenderam aquilo como... algo contra a feminilidade, quando na realidade era... tentando ‘voltar’, sabe, contra ser um ‘homem reprimido’. [Pausa] Isso foi há muito tempo atrás [risos]...” – Mick Jagger
O álbum “Aftermath”, o primeiro a ter apenas canções de Jagger e Richards, foi lançado em 15 de abril de 1966 no Reino Unido (DECCA), ficando em 1º lugar na Inglaterra por 8 semanas, quase exatamente o mesmo tempo até o lançamento da versão norte-americana, em 20 de junho (London), versão essa que tem “Paint It Black”, mas não inclui “Out Of Time” e encerra com “Goin’ Home”.