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Há 46 anos era lançado o álbum “Exile On Main St.”

A maior obra-prima, ou como diria Sheryl Crow, a bíblia do rock n' roll, “Exile On Main St”, tem inúmeras histórias obscuras, cheias de mistérios, egocentrismo, caos, atrasos na produção, no qual o resultado final, apesar de tudo, ficou surpreendentemente, maravilhoso. É como se uma fênix ressurgisse e trouxesse a criatividade que estava bloqueada numa certa mansão no sul da França, em que nada saía do lugar. Nem as músicas. As únicas coisas que rolavam em Nellcôte eram drogas, bebidas, loucuras, um entra e sai de gente estranha, traficantes, muitos banquetes para os “convidados” e produzir que é bom, nada. Pouquíssimas canções foram feitas na casa. Não havia condições atmosféricas para isso. Tudo era muito desorganizado e descompromissado. O que, certamente, causou gastos excessivos. Tudo que a banda estava fugindo, de gastos. Afinal de contas, eles estavam fugindo de Londres para não pagarem os tais impostos caríssimos que o país cobrava deles.

Apesar de ter seu lançamento em 1972, a primeira música que fez parte do álbum a aparecer em uma sessão foi “Loving Cup”, que teve seu primeiro take ainda nas sessões do álbum “Let It Bleed”, no Olympic Sound Studios, em 1969. Um ano antes, Mick Jagger começou a escrever “Shine A Light” como um puxão de orelha em Brian Jones. Na época, a canção se chamava “Get A Line On You”, e acredita-se que foi gravada pela primeira vez ainda em outubro de 1969 – mesmo período em que gravaram “All Down The Line” pela primeira vez, ainda sem guitarras elétricas – nas sessões para o álbum homônimo que Leon Russell lançou em 1970, a faixa acabou não entrando para o disco do músico, mas foi lançada como faixa bônus no relançamento do álbum em 1994. Em julho de 1970 uma demo de “Shine A Light” foi gravada, desta vez com Jagger nos vocais e Leon apenas no piano, fontes afirmam que nessa sessão feita em Londres, a guitarra é de George Harrison e a bateria é de Ringo Starr, além de Jagger, o único Stone presente nessa gravação era Bill Wyman, embora também se fale em David Spenner ter tocado baixo naquele dia. Ainda seguindo na linha do tempo das gravações do álbum, só em 1970 que canções do futuro “Exile On Main St.” apareceriam novamente nas sessões, desta vez, do álbum “Sticky Fingers”. “All Down The Line” seria melhor trabalhada, enquanto os covers de “Stop Breaking Down” (gravada originalmente por Robert Johnson em 1937) e “Shake Your Hips” (originalmente gravada por Slim Harpo em 1965) apareceriam pela primeira vez nas sessões que aconteceram entre os meses de junho e julho. A faixa “Shine A Light” começaria a ganhar mais vida com a primeira contribuição de Billy Preston na música, em uma sessão que ocorreu no dia 23 de julho de 1970, naquele mesmo dia a faixa com o nome de trabalho de “Candlewick Bedspread” foi gravada, que logo ela se tornaria “Sweet Virginia” e teria mais elementos adicionados em estúdio ainda naquele dia com o piano de Ian Stewart, mas só voltaria a ser mais bem trabalhada em outubro daquele ano.

Após o lançamento do álbum ao vivo “Get Yer Ya Ya's Out” e da Turnê Europeia de 1970, os Rolling Stones estavam de volta ao estúdio em gravações que aconteceram na cidade de Newbury, Stargroves na casa de Mick Jagger, gravações também foram feitas no Olympic Sound Studios naquele mês. Naquele período, “Sweet Black Angel” apareceu pela primeira vez em uma sessão, e “Tumbling Dice” era trabalhada com o título de “Good Time Women”. No início de 1971, as gravações para o álbum “Sticky Fingers” já estavam finalizadas, mas a situação dos Stones com impostos ficava cada vez mais delicada. Com a banda deixando a DECCA e Allen Klein, os Stones acabaram enfrentando uma ação judicial com o criador da ABKCO e perderam o direito de lucrar com o material gravado em seus primeiros 6 anos de catálogo, já as canções “Brown Sugar” e “Wild Horses” se tornaram propriedade conjunta de Klein e dos Stones por conta das gravações de ambas terem começado em 1969. Em 1971, a banda já tinha gastado o dinheiro que lhes restava em impostos, e deixaram a Inglaterra em abril após a Farewell Tour – 4 a 14 de março de 1971. Após a festa de despedida em um hotel em Maidenhead, Berkshire, que teve entre os convidados John Lennon e Yoko Ono, Keith Moon, Roger Daltrey, Eric Clapton, junto de outros nomes famosos, os Rolling Stones começavam a deixar seu próprio país. Os primeiros a sair da Inglaterra com destino à França foram Bill Wyman e Mick Taylor em 1º de abril, já no dia 3, Keith Richards e Charlie Watts fazem o mesmo e voam para Nice, diferente de Mick Jagger, que foi para Paris com sua futura esposa Bianca Pérez-Mora.

“Gravar no meu lugar era uma necessidade. A ideia era encontrar outro lugar para gravar como uma casa nas colinas. Mas eles não encontraram nenhum local, então eventualmente eles viraram e olharam para mim. Eu olhei para Anita e disse: ‘Ei, meu bem, nós vamos ter que aguentar isso’. Anita tinha que organizar o jantar às vezes para 18 pessoas. Nós refizemos a cozinha do porão em um estúdio.” – Keith Richards

Após se instalarem na França, uma mansão no sul do país seria a casa de Keith Richards e o local de trabalho dos Stones pelos próximos meses. A localidade era na Villefrance-sur-Mer, e a residência, a famosa Nellcôte. Ali seria gravada a maior parte do álbum, a banda colocou o equipamento de seu estúdio móvel no porão da mansão, e gravaram de 10 de julho a 14 de outubro. Eles trabalharam em clássicos como “Rocks Off”, “Rip This Joint”, “Happy”, a colaboração entre Jagger, Richards e Taylor “Ventilator Blues”, entre outros. Um período regado a sexo, drogas e Rock And Roll que não traz apenas boas lembranças, no dia 1º de outubro de 1971, a coleção de guitarras de Keith Richards foi roubada em Nêllcote.

Em novembro, Mick Jagger já estava mixando o álbum, e a partir de 4 de dezembro, as sessões de overdub começavam com o produtor Jimmy Miller e o engenheiro de som Andy Johns. Até 19 de dezembro, a banda estava no Sunset Sound Studio junto de músicos como Nicky Hopkins, Bobby Keys, Bill Plummer, Kathi McDonald, Clydie King, Venetta Fields, Jesse Kirkland, Tammi Lynn, Sherlie Matthews, Joe Green, Dr. John, Richard Washington e Al Perkins.

“A França é ok, com tanto que você consiga sair. Eu já estive na França por mais tempo do que estive na Inglaterra. Há toda a porra da música ao vivo aqui, há Jacques Brel e música eletrônica. Até os que tocam acordeão estão mortos.” – Mick Jagger

O lendário álbum abre com a animada "Rocks Off", com um riff característico de Keith Richards. A seguir, entram Charlie Watts, Bill Wyman e Mick Taylor. Pronto! Está formado a estrutura musical. Jagger está cantando MUITO bem. Nesta primeira faixa, dá pra sentir o sabor do Hard-Rock setentista. De fato, os Stones influenciaram milhares de bandas do estilo.

A segunda faixa, "Rip This Joint", é um rockabilly. Piano e saxofone comandam a base musical. A cozinha entre Charlie e Bill está impecável. Música rápida -- um soco no estômago! Vale ressaltar a fúria de Jagger -- o vocalista demonstra habilidade e força na voz.

Chegou a hora do Blues. A terceira faixa "Shake Your Hips" (originalmente lançada por Slim Harpo, em 1965) tem como destaque o feeling da banda. É nítido o entrosamento entre Taylor e Keith. Vale ressaltar as linhas de Sax -- eterno Bob!

Mais uma dose de Blues! A quarta faixa "Casino Boogie" é um dos mais belíssimos tributos ao Blues. O grande destaque aqui é Bobby Keys -- solos intermináveis de Sax.

O álbum continua... De volta ao rock n' roll, agora com o clássico "Tumbling Dice". A quinta faixa tem uma bela introdução -- Keith e seus riff's mágicos. Na sequência entra Charlie -- uma das melhores linhas de bateria do álbum -- e o resto da banda, inclusive os backing vocals de Clydie King, Venetta Fields e Sherlie Matthews. Mick Jagger (novamente) dá uma aula de canto -- que tom de voz!

Agora, a banda dá uma pausa, temos o country "Sweet Virginia", com vilões -- música acústica. A introdução tem acordes do instrumento e logo a seguir, Mick Jagger esbanja talento tocando sua gaita -- harmonia perfeita. Charlie conduz com maestria sua bateria acústica. A sexta faixa começa de forma triste e tem um final alegre com os backing vocals de Mick, Keith, Taylor, Gram Parsons, Clydie King, Venetta Fields, Dr. John, Shirley Goodman e Tammi Lynn.

A sétima faixa, "Torn and Frayed", é mais um Country a lá Stones. O tema tem como protagonista Keith e Taylor. Os dois músicos dividem as bases.

A banda dá mais uma pausa, agora temos "Sweet Black Angel", música sobre a ativista Angela Davi. A oitava faixa tem Keith e Taylor nos vilões e Mick (como de praxe) mostrando todo seu talento na gaita.

A nona faixa "Loving Cup" é um dos grandes clássicos dos Stones. É lembrada (quase sempre) nos shows. A introdução de piano fica por conta do lendário Nicky Hopkins. O refrão é um dos pontos fortes -- facilmente decorável.

A décima faixa é a clássica "Happy", música cantada por Richards. O tema é totalmente Rock N' Roll. A introdução é matadora -- Keith Richards e seu poderosíssimo riff.

O álbum continua... Agora temos "Turd on the Run" com uma levada acelerada. A décima primeira faixa tem como destaque a percussão -- Bob tocando maracas. Também vale ressaltar o contrabaixo (double bass), dando um ar mais ruralista para o instrumental -- genial Bill Plummer.

A décima segunda faixa, "Ventilator Blues", tem uma levada bem mais lenta -- um Blues escrito pelo Stone Mick Taylor.

Com um ritmo mais lento, agora é a vez do clássico gospel "I Just Want to See His Face". Bill Plummer é o protagonista da décima terceira faixa -- o músico mostra todo seu talento no instrumento de quatro cordas.

A décima quarta faixa "Let It Loose" mantém a mesma pegada. Aqui os Stones mostram feeling e emoção. Keith Richards faz todo o trabalho no instrumento de 6 cordas. Bob Keys e Jim Price nos metais fazem toda a diferença -- que melodia! Nicky Hopkins faz um belíssimo trabalho no piano. Vale ressaltar os belíssimos backing vocals de Venetta Fields, Clydie King e Jesse Kirkland.

Pronto! Chegamos em um dos melhores momentos do álbum. A décima quinta faixa "All Down the Line" é uma música bem Stones! Richards se destaque logo no início com seu riff -- umas das melhores introduções do lendário álbum. O tema é alegre. Envolvente. Jagger está cantando como nunca. Watts e Bill estão inspirados -- que cozinha fantástica! Os metais ficam por conta de Bob Keys e Jim Price -- novamente eles.

A décima sexta faixa "Stop Breaking Down" é uma -- belíssima, diga-se de passagem -- homenagem a Robert Johnson. Um Blues cru, direto e com maestria por parte da dupla Taylor e Keith.

A décima sétima faixa "Shine a Light" nasceu gospel -- Brian Jones ainda era vivo --, mas ganhou uma levada um pouco mais rápida. Mick Taylor faz o trabalho no instrumento de seis cordas -- na metade do tema o próprio faz um solo impecável. Jagger canta com emoção. A cozinha fica por conta de Bill e Jimmy Miller. Billy Preston faz um excelente trabalho no piano.

"Soul Survivor" fecha o álbum. A décima oitava faixa tem o trabalho de apenas três Stones: Jagger, Keith e Charlie. Keith fez a guitarra, baixo e backing. Os metais (novamente) são de Bob e Jim. Nicky fez o trabalho no piano. E assim termina uma obra-prima sem igual dentro do rock n’ roll.

O álbum “Exile On Main St.” foi lançado em 12 de maio de 1972, alcançando o 1º lugar em mais de 6 países, incluindo Inglaterra, EUA e Noruega, ainda no ano de seu lançamento. Em países onde o disco não saiu no mesmo dia do álbum britânico, o período de lançamento foi de 22 a 26 de maio.

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