74 ANOS DE PARADOXO: HOJE UM ÍCONE, AMANHÃ UMA LENDA
Para se tornar o que chamamos de "uma estrela", não basta ter uma talento único em uma ou outra manifestação artística: parece ser preciso também um vácuo interior tão negro e profundo quanto o brilho da estrela. Como regra, pessoas bem ajustadas, felizes e normais não se transformam em estrelas. É algo que em geral recai sobre quem sofreu alguma infelicidade traumática ou privação cedo na vida. Por isso a ferocidade da motivação de ganhar fama e riqueza a qualquer custo, a insaciável necessidade de amor e de atenção do público. Enquanto atribuímos a essas pessoas um status quase divino, paradoxalmente também as vemos como os mais falíveis dos seres humanos, torturados por demônios do passado e inseguranças do presente, em geral destinados a destruírem seu talento e a si mesmos com álcool, drogas ou ambos. Desde meados do século XX, quando a celebridade se globalizou, as estrelas mais brilhantes, de Charlie Chaplin a Judy Garland, de Marilyn Monroe a Edith Piaf, de Elvis Presley a John Lennon, de Michael Jackson a Amy Winehouse preencheram parte ou até todos esses critérios. Como então explicar Mick Jagger, que preenche nenhum deles?
Jagger rompe o modelo desde o primeiro alento. Sempre imaginamos que estrelas tenham nascido em lugares desfavoráveis, que façam sua posterior ascensão parecer ainda mais espetacular. Uma cabana pobre e suja no Mississípi, um porto marítimo mal-afamado, o vestiário de um desbotado teatro mambembe, uma favela em Paris... Não esperamos que estrelas possam ter origem em circunstâncias confortáveis, ainda que desestimulantes, como no contado de Kent, localizada na parte mais rica e privilegiada da Inglaterra.
Todos os tipos de figuras da vida pública têm uma história pessoal invariavelmente carinhosa sobre Jagger: Mick, o menino disciplinado e atleta nato; Mick, o fã de blues e notório aluno de Muddy Waters; Mick, o entusiasta e crítico de cinema; Mick, o irreversível Dom Juan; sir Mick, o defensor da etiqueta e das boas maneiras; Mick, o milionário e filantrópico inglês; Mick, o vocalista dos Rolling Stones.
Seu legado está ao nosso redor: no semblante sexual ejetado na música pop, na patente de um cantor dentro de uma banda, nas danças eróticas nos maiores palcos mundiais, no fetiche de lábios como os seus. Hoje um ícone, amanhã uma lenda. Mick Jagger está completando seus 74 anos hoje (26). Parabéns, Mick!