BEIÇUDO, ESQUELÉTICO E INQUIETO: OS PRIMEIROS ANOS DE MICK JAGGER
Existe uma imagem idealizada dos garotos britânicos no início dos anos 1950, antes de a televisão, os jogos de computador e a sexualidade precoce terem acabado com a inocência da infância. Esse garoto não se veste como um gângster nova-iorquino em miniatura ou como um guerrilheiro da selva, mas apenas como um garoto – camisa de manga curta branca, calças curtas largas cáqui e um cinto elástico com fivela de metal em forma de S. Cabelo despenteado, um sorriso largo e radiante e olhos franzidos pelo sol sem sombra de medo ou qualquer sexualidade prematura. É Mick Jagger, como o mundo viria a conhecê-lo.
Na escola era um ótimo aluno, primeiro da classe ou quase em todas as matérias. Como logo ficou evidente, apresentava a mesma aptidão natural do pai para esportes, dominando os jogos de futebol e críquete da escola, bem como as corridas de saco ou equilibrando ovos. Porém, naquele modelo de perfeição, já havia um laivo de subversão: tinha excelente ouvido para a forma como os adultos falavam e conseguia modular a voz numa impressionante faixa de sotaques. Sua imitação de professores impressionava mais seus colegas de classes do que suas vitórias nos campos esportivos. Na casa dos Jagger, como em todos os lares britânicos, a música estava sempre no ar, saindo dos grandes aparelhos de rádio a válvula em todos os gêneros, de bandas dançantes a operetas. Mick gostava de imitar os cantores americanos que ouvia, mas não se interessou pelas lições de canto da escola nem pelo coral da igreja que ele e o irmão Chris frequentavam. Nesse estágio, Chris parecia um artista mais natural, tendo ganhado um prêmio na escola por cantar o tema de um filme. Os entretenimentos musicais que mais atraíam Mick eram as pantomimas profissionais de Natal apresentadas nos grandes teatros da área.
Pelos padrões dos meados dos anos 1950, Mick não era considerado atraente. A atração sexual na época era totalmente ditada pelos artistas de cinema, entre os quais os arquétipos masculinos eram altos, musculosos e de queixo quadrado, cabelos curtos e besuntados. No entanto, o pequeno, esquelético e boca-mole Mick Jagger sempre provocava a maior parte dos sorrisos, enrubescimentos, risadinhas e discussões cochichadas pelas costas nos encontros com as garotas proibidas do colégio. Seu traço mais notável era a boca, que, assim como em certas espécies de terriers, parecia ocupar toda a parte inferior do rosto, formando um sorriso que ia de orelha a orelha e uns lábios numa cor e espessura que pareciam precisar do dobro do umedecimento normal feito pela língua.
Hoje (26) Mick completa seus 75 anos e, apesar das rugas, sua imagem é tão conhecida mundo afora quanto outrora. Até porque os lábios permanecem os mesmos.
Foto: David Bailey