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Ronnie Wood comenta sobre sua arte, vitória contra o câncer, e ser pai em nova entrevista

Recentemente, Ronnie Wood foi entrevistado por Barbara Ellen para o The Guardian. Antes da entrevista os dois se encontraram em um hotel do centro de Londres, se esbarraram no elevador. “Já nos conhecemos?”, ele pergunta instantaneamente (não; talvez, depois de todos esses anos de hedonismo do rock’n’roll como guitarrista dos Rolling Stones, Wood tem que agir cautelosamente e perguntar a todos). Agora aos 70, ele se tornou há um ano um novo pai quando sua esposa, Sally Humphreys (com que se casou em 2012), deu luz a duas meninas; ele tem outros quatro filhos de casamentos anteriores, e seis netos. Seu visual rock’n’roll que é uma marca registrada (cabelo espetado, rosto espetado), não apresenta sinais de sua crise de saúde no início deste ano quando foi diagnosticado com câncer de pulmão e submetido a uma cirurgia para remover o tecido afetado.

Se acomodando para conversar, ele é amigável, bem-humorado e às vezes um pouco distraído, procurando coca-cola (seu “vício restante”). Pintor e músico (ele estudou na Ealing College of Art), Wood ocasionalmente chega a folhear seu novo livro, uma retrospectiva das obras de sua vida, “Ronnie Wood: Artist”, mostrando diferentes desenhos e pinturas.

Foto: Suki Dhanda/Observer

Você está orgulhoso deste livro?

Ah, sim! Eu queria fazer isso há pelo menos 50 dos meus 70 anos, mas isso ficou mais intenso nos últimos 30. Tem aquela frase francesa encantadora para uma coleção de trabalhos de um artista, o Catálogo Raisonné. Para mim, o livro é assim.

A sua arte é uma espécie de “projeto de sanidade” – algo que é só sobre você, separado dos Stones?

Arte é apenas algo que eu sempre fiz – uma coisa muito consoladora, e algo que eu faço sozinho. Eu tenho o grupo musical e então tenho isso, meu próprio comentário privado sobre eventos diários.

Seus pais eram barqueiros [pessoas que viviam e trabalhavam nos rios e canais] – e se tornaram os primeiros em suas famílias a viverem em terra firme...

Você pode traçar muito dos Woods, e dos Dyers, o nome de solteira da minha mãe, de volta ao século XVIII – nas águas, carregando madeira ou sal. Talvez haja uma conexão com os espanhóis – por qual outro motivo eu tenho cabelo preto aos 70?

Você dedicou o livro aos seus saudosos pais e irmãos…

Agradeci a mamãe e papai por sua paciência e encorajamento. Era apenas uma pequena casa do conselho, mas eles nos deixaram usar a sala dos fundos como um quarto de criação. E meus irmãos foram muito encorajadores – eles eram 10 anos mais velhos, artistas e músicos também. Eles fizeram isso se tornar uma coisa tão natural, estar sentado, desenhando e brincando. Eles traziam seus amigos da escola de arte – todas as garotas! Eu estava lá, em calças curtas e flanela cinza, pensando: “Isso parece um bom trabalho. Muitas vantagens, e você também pode pintar!”

Algumas pessoas pensam que você só desenha e pinta os Stones, e outras pessoas famosas que você conhece – mas a arte no seu livro é bem variada…

Isso pode ser de quando tentei fazer meu retorno na cena de arte. Quando eu estava ficando sem dinheiro, no final dos anos 80, eu percebi, “eu tenho outro recurso que eu posso usar – eu posso pintar. Deixe-me tentar colocar meu pé naquela porta”. Então eu fiz retratos, muitos retratos – alguns deles estão neste livro. Mas você também se diverte muito fazendo isso. Caso contrário, não seria gratificante e deve ser gratificante.

Keith Richards escreve a “conclusão” do seu livro, chamando você de um “Picassartist” – os Stones apoiam a sua arte?

Sim, mas nem sempre foi assim. Keith e Charlie [Watts] são artistas por direito próprio. Charlie costumava ser um crítico meu, dizendo: “Você excedeu esse trabalho, você tinha isso e agora exagerou”, e nunca foi dita uma palavra mais verdadeira em brincadeira. Keith sempre dirá que “há muito no que você não diz, nos espaços que você deixa – tanto quando você está tocando, como com pincel e tela”. Então, sim, acho que você está sempre aprendendo, musical e artisticamente.

Você se sente o “novo garoto” dos Stones?

São apenas 40 anos ímpares! Eu fiz meu aprendizado, 17 anos, antes de eu conseguir um aumento, antes mesmo de pensar em dinheiro. Eu estava, “Vocês acham que eu deveria conseguir um pouco mais?” E eles ficavam meio, “Sim, bem, nós pensamos que você nunca perguntaria – aqueles que não perguntam, não querem, companheiro”.

Talvez você estivesse “desviado” – por anos, você e Keith Richards eram palavras-chave para o excesso no rock’n’roll...

Oh, sim – 10 anos se passaram assim! Era algo como, “O quêêê?”… É sempre ótimo estar com Keith, muita diversão. Temos essa discussão permanente – qual é o melhor guitarrista? Temos de chamar Eric Clapton e ele diz: “Nenhum de vocês é. Eu sou melhor do que vocês dois”. Todos nós ainda nos reunimos [Clapton e os Stones] e toda vez que nos encontramos é como se o tempo não passasse e que ainda há tantas histórias para preencher, tantas aventuras.

Acabei de lutar contra o câncer, essa é minha última aventura. Eu fumei pesado por 50 anos, e pensei, “tem que haver algum preço a pagar”. Eu não tive uma radiografia de tórax por 16 anos, e quando eu fiz, com certeza, havia uma grande sombra lá no meu pulmão, uma supernova. Eu pensei “puta que pariu!”

Definitivamente fui lá com uma atitude positiva. Eu pensei, “certo, eu tenho câncer, vamos tirar isso”. Eles desceram no meu tubo de drenagem, mangueira... do que eles chamam? Traqueia! Todos esses tubos saíram de mim. Eu me senti como um fantoche, eu estava todo ligado como uma marionete.

Isso fez você se sentir muito humano e vulnerável?

Sim, pensei que os doutores estavam realmente surpresos – porque eu saí na semana seguinte e estava de volta ao estúdio. Você não deveria melhorar tão rápido. Muito disso foi uma celebração no fato de que eu ainda estivesse vivo, que não se espalhou. Havia tanta gratidão no ar.

Muito artistas morreram em 2016, incluindo David Bowie…

Fiquei especialmente afetado com Bowie porque nós tínhamos a mesma idade – ambos de 1947. David e eu, nunca nos víamos muito, mas quando nos encontrávamos, nós tínhamos muito em comum. Com o câncer, ele ‘puxou a palha curta’. Eu soube que ele também teve um ataque. Como ele não estava fazendo shows ou aparições públicas, eu sabia que algo pesado estava acontecendo com sua saúde. Eu sabia que algo estava acontecendo. Eu tive sorte, peguei a ‘palha longa’ com o câncer.

À medida que envelhece, você está começando a pensar em legado – no que você deixará para trás?

Com essas garotas gêmeas na minha vida, isso realmente faz você querer estar por perto por mais tempo para vê-las crescer. Tendo essa segunda chance, isso me faz ainda mais grato por aproveitar as gêmeas, aproveitar os filhos que eu já tenho, aproveitar Sally, aproveitar voltar para a estrada, tudo isso.

Às vezes você pira sobre ser um avô, e também ser pai de crianças tão jovens?

É como minha vida se passou. Eu mal posso esperar para levá-las em turnê. Elas já foram ao Festival de Cinema de Toronto e ao Desert Trip [festival de música] na Califórnia. Elas estiveram em Boston, Nova York, Albert Hall com Paul Weller... Elas adoram pessoas!

“Sally, 2016”, pintura de Wood representando sua esposa grávida | Imagem: Ronnie Wood/Thames & Hudson

Você incluiu desenhos de Sally no livro, referindo-se a ela como sua “musa”. Você respeita as mulheres?

Oh, sim! Minha mãe sempre disse que eu nunca estava tão feliz quanto quando eu estava na companhia de garotas – e eu realmente estou, eu realmente fico inspirado.

Como você se sente sobre o feminismo – não menos importante como pai de filhas?

Oh, eu não sei. Eu sinto que elas me contam como se sentem. Leah certamente, em termos incertos, abençoada seja. Agora, geralmente me fala sobre coisas para me ajudar – medicina e ervas que curam. Assim como [meus filhos] Jesse e Tyrone. O susto recente trouxe um lado muito atencioso – sua proteção natural apareceu.

Você sobreviveu ao câncer. Olhando para trás, com os Stones, todas as drogas e loucuras, alguma vez teve um ponto em que você pensou que não sobreviveria a tudo isso?

Tanto com as drogas quanto com a bebida, felizmente eu tinha um ponto de corte que me salvaria. No meio do esquecimento, de repente eu pensaria em algo como: “Mais uma dessas pílulas, e tudo acabará”. Você está assistindo pessoas ao seu redor, tomado-as como doces, todos “Uhul!", e eu pensaria: “Não faça isso”. Você tinha que estar continuamente em sua guarda.

Se você pudesse fazer tudo de novo, você viveria sua vida exatamente da mesma forma? Eu ia dizer “sem fumar”… mas quando eu estava crescendo, todo mundo fumava!

Fumar foi a coisa mais difícil de desistir? Fumar definitivamente teria sido a coisa mais difícil de desistir. O bom e velho Champix [pílulas para parar de fumar] ajudou. Sem o Champix, não acho que eu poderia ter desistido por mais do que algumas semanas por vez. O velho sentimento voltaria, as antigas desculpas – “Oh, entenda, eu gosto disso!” E eu realmente gostei disso.

A sorte teve um papel na sua carreira musical? Eu definitivamente estive no lugar certo no momento certo, com um pouco de manipulação da minha parte, isso apenas meio que empurrou todos para fora do caminho e fui entrando. Também havia muito trabalho. Mesmo como adolescente, eu ficaria nas poucas horas, praticando, fazendo um pequeno lick na minha guitarra, descobrindo como fazê-lo. Você faz isso parecer como se você tivesse tropeçado em um som, mas muito trabalho entrou nisso.

O que você acharia mais fácil de desistir – de tocar ou da arte? Essa é uma pergunta difícil. Mas eu poderia desistir de tocar. Eu sempre consegui pegar o violão em casa [entre as turnês], embora muitas vezes nem mesmo faça isso. Eu e Keith, ambos percebemos, nos ensaios, “Eu não acho que peguei um violão desde a última vez que vi você”.

Você deseja que tenha sido dada mais atenção à sua arte ao longo dos anos? Não, sou conhecido como músico, e as pessoas só podem assumir isso. Mas, como eu disse, fiz as duas coisas toda a minha vida, então seria bom ser reconhecido por ambos. Eu tive exposições, mas nada permanente – este livro é minha ‘exposição permanente’ agora. Vai ser ótimo vê-lo lá na prateleira, e para eu dizer: “Eu sou um artista”.

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