Há 52 anos: O último show em turnê com Brian Jones
Em 17 de abril de 1967, chegava ao fim a Turnê Europeia dos Rolling Stones, algo pelo qual a banda esperou ansiosamente. A excursão não correu bem em algumas de suas datas, quando não eram situações de violência, eram de estranheza, como quando a banda tocou na Polônia quatro dias antes onde sentiram um clima de repressão. Na noite de 15 de abril, a banda estava na Holanda, em uma apresentação que acabou com brigas na plateia, algo semelhante (ou até maior) ao que aconteceu em 1964. Em meio a momentos tensos desde o fim de 1966, os Stones encerravam uma turnê em clima sombrio. Talvez nenhum integrante da banda tenha acordado no dia em que viajaram para a Grécia pensando que toda aquela confusão poderia se repetir, mas não só poderia como se repetiu.
No dia do último show da Turnê Europeia de 1967, Atenas estava agitada por conta das eleições, com jornais que se mostravam favoráveis ao partido de esquerda e jornais que favoreciam o partido de direita. Já havia uma exaltação no ar, e para os jovens, ficaria ainda maior, pois estava anunciado que os Rolling Stones chegariam domingo à noite no Elliniko Airport, mas nenhum fã viu algum integrante, pois eles chegaram adiantados e em voos separados, levados para o hotel sob uma forte escolta. Os apreciadores da música dos Stones no lugar ficaram nervosos e, por não conseguirem ver a banda, gritavam “vergonha”.
Os cinco integrantes foram direto para o Hilton Hotel, e durante o sono de Brian Jones, a banda reduzida deu uma conferência de imprensa, onde tiveram sua inteligência insultada e tentativas de novas rixas no mundo da música com perguntas como: “O que vocês pensam dos Beatles?”. A resposta foi simples e direta: “Nós os amamos muito”. Enquanto a entrevista acontecia, por volta das 19h, fãs já estavam chegando no Panathinaikos Stadion para uma das noites mais selvagens (para o bem ou para o mal) da Grécia. A chuva que havia começado logo pela manhã daquela segunda-feira já estava a diminuir, mas antes disso, policiais já cercavam o estádio, quem não estivesse com seu ingresso não era permitido nem chegar perto do local, embora seja conhecido que um jovem entrou no estadio mesmo sem ter comprado uma entrada.
O concerto, como era costume na época, teve um longo ato de abertura, com bandas gregas como Loubogg, M.G.C., Idols, entre outras. O início da noite também incluiu o cantor Tassos Papastamatis, que interpretou “Strangers In The Night”, e segundo quem estava no show, foi tão aplaudido quantos os Rolling Stones. Enquanto Papastamatis brilhava, às 21h30 os integrantes da atração principal saíam do camarim para a última apresentação de uma turnê turbulenta.
O maior show daquela turnê começou de uma forma diferente, não apenas de todos os shows dos Stones, mas de shows de Rock And Roll daquela época. Fogos de artifício anunciavam o início da apresentação que começou com “The Last Time”, e a plateia logo foi à loucura. A polícia não gostou da reação do público, que era inevitável, mas a ordem dada a eles era de que qualquer pessoa que fosse pega gritando, em pé ou dançando, deveria ser levada de volta ao seu lugar, já não bastava o palco no meio do campo ficar distante do público que assistia das arquibancadas, a plateia não podia se expressar. Mesmo certas reações não podendo ser contidas, o estádio parou hipnotizado para escutar a gaita de Brian Jones, que só naquele show já havia tocado guitarra, dulcimer (“Lady Jane”), flauta (“Ruby Tuesday”) e órgão hammond (“Let’s Spend The Night Together”).
Foto: lifo.gr
A penúltima canção do show era “Goin’ Home” que fazia uma espécie de medley com “(I Can’t Get No) Satisfaction”, o que nessa turnê fazia as plateias ficarem em polvorosa, mas como neste show era proibido se divertir, talvez não tenha sido essa a reação de quem assistia. Mesmo com as ordens sendo para o público se comportar, não foi bem o que oficiais mal informados fizeram durante a execução da última música da noite. Mick Jagger iria jogar rosas vermelhas para a plateia, mas naquele show o palco estava muito distante dos fãs, então o frontman pediu para o tour manager dos Stones, Tom Keylock, fazer o trabalho. Ele foi até o público e começou a jogar as rosas, mas logo os policiais que faziam a segurança do show viram o que estava acontecendo e foram em direção a Keylock, o homem que já havia quebrado o braço três dias antes daquela apresentação tentando proteger Jagger do ataque de um fã em Zurique, era agredido pelos oficiais que acreditavam que ele estava no campo sem autorização. Bill Wyman foi o primeiro a ver o que estava acontecendo, o baixista desceu do palco e foi ajudar, logo os outros Stones fizeram o mesmo. Nikos Mastorakis, radialista e um dos promotores do show, sobe ao palco, vai até o microfone e diz: “Cavalheiros, isto é uma vergonha”. Após a briga ser apartada, por mais incrível que pareça, a banda voltou e terminou “(I Can’t Get No) Satisfaction”, finalizando a apresentação. No dia seguinte, os integrantes passariam por horas de inspeção e dificuldades para sair da Grécia, resultando em Bill, sua namorada Astrid e seu filho Stephen decidindo ficar por mais três dias.
O último show que a banda realizou em 1967 foi também o último show em turnê com Brian Jones, que só faria mais duas performances ao vivo com os Rolling Stones antes de sua demissão.
Foto: Zoo Magazine