O mistério das faixas dos Rolling Stones publicadas no YouTube
Esta é a tradução de uma matéria do The Guardian. Tradução: Marcos Magalhães
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O mistério das faixas dos Rolling Stones publicadas no YouTube
Uma conta misteriosa no YouTube que postou, e depois escondeu, uma coleção e de 75 raras e não publicadas gravações dos Rolling Stones, pode ter relação com uma tentativa astuta de evitar as leis de direitos autorais da UE e manter as faixas fora do domínio público no 50º aniversário de sua criação. Rapidamente, antes da meia-noite em 31 de dezembro, a conta 69RSTRAX postou uma coleção de gravações, incluindo out-takes de estúdio e performances ao vivo em sua página pública no site de vídeos, sem nenhum comentário ou explicação. Horas mais tarde, em 1º de janeiro, novamente sem aviso, a conta colocou todos os vídeos em modo privado. 69RSTRAX entrou no YouTube em 29 de dezembro, e não dá nenhuma pista sobre a identidade – salvo a do YouTube - além de seu endereço de email, o qual está direcionado para consultas comerciais à ABKCO, uma editora musical que detém os direitos de uma parte substancial das primeiras gravações dos Rolling Stones. De acordo com a revista Variety, que foi a primeira a divulgar a breve publicação, a explicação pode estar relacionada com a diretiva de direitos autorais da União Europeia. De acordo com a legislação da UE, as gravações sonoras são cobertas por direitos autorais nos primeiros 50 anos após a sua realização - a menos que tenham sido “legalmente comunicadas ao público”, caso em que o termo de direitos autorais se estende por mais 20 anos. No final de 2019, a ABKCO enfrentaria um dilema “use-o ou perca-o”: se não publicassem as faixas que possuíam, seria difícil monetizá-las no futuro, já que os direitos autorais das gravações (embora não das composições), caducariam. Alguns publishers passaram por situações similares, tendo de lançar coleções e de gravações – do interesse apenas de super-fãs – como lançamento em 2013 do álbum “Bootleg Recordings 1963”, dos Beatles. Outros, talvez menos ansiosos em compartilhar versões iniciais e inacabadas de músicas com o mundo, insistiram no significado de "publicar" faixas: uma compilação de Bob Dylan, literalmente publicada como "The Copyright Extension Collection, Volume 1", também foi lançada em 2013 em uma edição de 100 e vendida apenas na Europa. Mas [no caso dos Stones] seria a primeira vez que um selo adotaria uma abordagem tão minimalista de publicação. Mesmo enquanto as faixas dos Stones estavam disponíveis no YouTube, elas teriam sido adulteradas para torná-las menos atraentes para os fãs que poderiam baixá-las e compartilhá-las em outros lugares. "As gravações mais raras - ou seja, as que não estavam disponíveis anteriormente nos bootlegs - têm um som de parecido a um tom de discagem telefônica no mesmo volume da música", relatou Jem Aswad, da Variety, tornando-as "uma experiência auditiva verdadeiramente miserável". Ainda não está claro se a publicação de um único dia, em uma plataforma de vídeo na Internet, será suficiente para satisfazer os juízes europeus de que as faixas realmente foram "legalmente comunicadas ao público". A ABKCO se recusou a comentar. — Nota do tradutor: Em janeiro de 2017, a ABKCO publicou uma versão inédita de “Mother’s Little Helper”, com letras vocal guia, letras iniciais e até Keith cantando o primeiro verso. O motivo era nítido, renovar o copyright da gravação, que é de dezembro de 1965 e já havia completado 52 anos. A raridade ficou disponível para o público na época e atualmente o vídeo, que permanece no canal, está privado.
Foto: David Newell Smith/Observer