Stones fazem primeiro show em Southampton desde 1966
Quase 52 anos depois...
Em 29 de maio de 2018, os Rolling Stones realizaram o único show da “No Filter” na cidade de Southampton, no St. Mary’s Stadium, onde a banda nunca havia tocado. A última vez dos Stones em Southampton foi – de acordo com o site The Complete Works – durante a Turnê Britânica de 1966, quando fizeram dois shows no Gaumont Theatre em 9 de outubro daquele ano. De volta a 2018, o tempo parecia que não seria muito receptivo para o dia do tão aguardado show dos tempos modernos dos Stones na cidade inglesa, mas a banda avisou nas redes sociais, fazendo chuva ou sol, o espetáculo iria acontecer. O ato de abertura foi o grupo inglês The Vaccines, que parece não ter impressionado o público quanto os outros artistas que iniciaram os trabalhos para os Stones em 2018.
Em Southampton, as meias de Charlie Watts combinavam com a cor do time de futebol da casa.
Foto: Daily Echo
O show no St. Mary’s Stadium foi o primeiro da história da “No Filter” a abrir com “Start Me Up”, uma já velha conhecida dos fãs no começo de muitos concertos, o setlist seguiria sua linha tradicional com “Let’s Spend The Night Together”, que foi tocada com maestria – mais do que em Londres –, Charlie Watts mostrou que ainda toca e muito bem aos 76 anos de idade, o baterista estava em forma e invocou a versão original de 1967 da canção em seu instrumento, o mesmo aconteceu no London Stadium, mas Watts estava bem mais afiado neste número específico no show de Southampton. Em “Tumbling Dice” ficou claro para o público que seja lá o que atacou a garganta de Mick Jagger no show anterior, já não o afetava mais, uma boa performance vocal sem arriscar notas altas. O concerto feito embaixo de tempo nublado não teve song vote, o que resultou nos Stones trazendo “Under My Thumb” de volta ao set fixo da turnê, o clássico estava em uma forma mais firme e visceral do que na última fez que foi tocada como vencedora do song vote do concerto realizado em 22 de maio, em Londres. A grande surpresa do show foi “Sweet Virginia”, que trouxe um belo solo de saxofone de Time Ries. A canção havia aparecido pela última vez nesta turnê também como parte da votação, ganhando para o show da Friends Arena, na Suécia, em 12 de outubro de 2017. Keith Richards sempre sola maravilhosamente bem no clássico do “Exile On Main St”, que com certeza é uma música que os fãs esperam ver com mais frequência nos shows.
Como sempre, Jagger pergunta se a plateia quer cantar, “You Can’t Always Get What You Want” teve uma versão na qual Mick continuou economizando a voz e nem por isso decepcionou os fãs presentes. No momento de Ronnie Wood solar, o guitarrista acabou se perdendo um pouco quando foi para as notas mais agudas, mas para mostrar serviço, fez um solo que provavelmente era muito mais inspirado do que ele pretendia fazer, os Stones com certeza deixarão uma boa impressão na Inglaterra com os shows que marcam o retorno da banda a seu país. O final da música foi o mais enérgico do clássico de 1969 até agora durante a “No Filter” em 2018, Charlie não estava para brincadeira. Jagger deixou a interação com o público para Bernard Fowler e Sasha Allen, o que não diminuiu a intensidade e impacto do momento. “Paint It Black” segue melhorando a cada show em relação à execução da música por Keith, Ronnie e Charlie, os Stones realmente são como vinho. Apesar de um pequeno atraso em uma virada de Watts, foi também a “Paint It Black” mais enérgica de 2018 até o momento. Mick cantou bem durante toda música, mas estranhamente teve dificuldade na afinação durante as notas baixas, enquanto cantava o riff da canção, nada que diminuiria a força da peformance. Mas em “Honky Tonk Women” o frontman seguiu fazendo outra brilhante versão de um dos maiores clássicos dos Stones. Antes de apresentar a banda, o vocalista comentou sobre os fãs da cidade que estavam presentes no estádio, lembrou os shows da banda no Gaumont Theatre em 1963 e 1966, e os agradeceu por retornarem depois de tanto tempo para assistir aos Rolling Stones.
Mick fez suas tradicionais apresentações de quem estava tocando e cantando naquela noite, e como de costume, o mais ovacionado foi Keith Richards, que cumprimentou a plateia com um “Boa noite, senhoras e senhores”. A primeira da noite na voz do homem foi “The Worst”, música na qual sempre divide os vocais com Bernard Fowler, uma linda combinação. Richards perdeu os versos “Take all the pain/It’s yours anyway/Get out, kid”. E simplesmente deixou a música seguir para o solo de pedal steel de Wood, mas recuperou a música no momento certo. O show com Keith comandando os vocais continuou com “Before They Make Me Run”, que foi seguida por “Sympathy For The Devil”. Dessa vez, Mick não retornou ao palco com um glamuroso terno, mas sim com um visual mais jovem e despojado. Keith solou bem na noite de 29 de maio, tendo sucesso em uma interpretação de seu solo original de 1968, algo que se tornou raro acontecendo diante dos fãs que estavam em Southampton, afinal, a música que abre o “Beggars Banquet” nunca havia ecoado em alguma venue da cidade até aquela noite. A plateia de mais de 30 mil pessoas também se embalou e dançou ao som de “Miss You”, logo após veio o blues mais pesado dos Stones “Midnight Rambler”.
Para variar, “Jumpin’ Jack Flash” foi uma porrada. Já “Brown Sugar” teve uma de suas melhores introduções durante a “No Filter”, pode parecer besteira comentar este fato, mas no último ano até o fãs que elogiam absolutamente tudo que os Stones fazem reconheceram que algumas introduções do clássico de 1969 não estevam em seus melhores momentos. Em alguns shows do ano passado, Ronnie perdeu a intro e só recuperou quando já estava perto do primeiro verso da canção. Há quem acredite que o instrumento nas mãos do guitarrista tenha um papel crucial nisso. A guitarra que Wood usa para tocar “Brown Sugar” na atual turnê é uma Danelectro ’64 com uma alavanca Bigsby. Para um número de fãs não muito eloquente, talvez não seja a melhor escolha de guitarra para a música, mas quem manda são os Stones, não os fãs, e com certeza Ronnie não irá retornar à sua Gibson L-5S – a guitarra que usava para a música na “Olé Tour” –para aquele momento do show durante o ano vigente, quem sabe em 2019.
A banda retornou para o bis com “Gimme Shelter” – Ronnie com a L-5S –, Charlie acabou alongando a introdução da música, mas não atrapalhou o andamento, com Mick Jagger entrando no momento certo. Sasha Allen economizou ainda mais a voz em comparação com o show anterior, algo atípico para a voz que faz a parte originalmente cantada por Merry Clayton. Talvez o tempo frio do Reino Unido esteja tendo efeitos nas vozes de Sasha e Mick, já que a voz do frontman voltou a ficar mais grave, não foi algo que se agravou tanto quanto no último show da excursão no London Stadium, mas era notável nas notas mais altas de Jagger em “(I Can’t Get No) Satisfaction”. Mas o clássico máximo dos Stones não se deixou abalar, a empolgação persistiu e os fãs foram à loucura com a última da noite. Inteligente em sua performance, Mick deixou as partes altas com Bernard e Sasha e seguiu atiçando a plateia até o último momento do, talvez, único show dos Stones no século XXI em Southampton.
Após a festa do retorno no St. Mary's Stadium, Ronnie Wood comemorou o aniversário de Alice e Gracie. As gêmeas de Sally e Ronnie nasceram há exatamente dois anos. Happy Birthday, girls!
Foto: Daily Echo
Setlist:
1. Start Me Up 2. Let's Spend The Night Together 3. Tumbling Dice 4. It's Only Rock 'N Roll (But I Like It) 5. Just Your Fool (Buddy Johnson and His Orchestra cover) 6. Under My Thumb 7. Sweet Virginia 8. You Can't Always Get What You Want 9. Paint It Black 10. Honky Tonk Women 11. The Worst (Keith) 12. Before They Make Me Run (Keith) 13. Sympathy For The Devil 14. Miss You 15. Midnight Rambler 16. Jumpin' Jack Flash 17. Brown Sugar BIS 18. Gimme Shelter 19. (I Can't Get No) Satisfaction
Foto: The Rolling Stones