“No Filter” se despede do Reino Unido
Último Rock em Londres – "No Filter" se despede do Reino Unido
Foto: Jim Dyson/Getty Images Europe
O fim da leg britânica da “No Filter” parecia distante, mas a data para o encerramento dos shows que acabaram de vez com o jejum de cinco anos sem tocar no Reino Unido havia finalmente chegado. Era a última chance dos fãs em Londres assistirem à monumental turnê dos Rolling Stones. O gigantesco Twickenham Stadium não recebia um show dos Stones há quase 12 anos, a última vez da banda no Twickenham antes de 2018 foi em 2006, quando tocaram no estádio em 20 e 22 de agosto pela “A Bigger Bang Tour”. O dia de música começou com James Bay, que antes de subir ao palco, teve a honra de passar um tempo com a banda, especialmente com Keith Richards, com quem conversou sobre clássicos do Rock And Roll e também sobre a famosa “vara de vodu” de Richards, ao ser perguntado sobre o objeto mostrado no documentário “Olé, Olé, Olé! A Trip Across Latin America”, Keith disse: “Não iremos precisar dela esta noite”.
As pedras começaram a rolar na hora marcada com “Street Fighting Man”, essa foi outra grande versão do clássico de 1968 que foi resgatado para a “No Filter” em 2017 como parte do setlist fixo, a música que costumava encerrar os shows dos Stones no fim dos anos 60 e em parte da década 70 realmente merecia voltar com tudo. A performance do último show de 2018 em Londres foi de cair o queixo, Charlie Watts é um dos grandes responsáveis pela ferocidade da música que abriu o espetáculo, junto de Keith Richards – o primeiro acorde da noite – e Ronnie Wood, Mick Jagger como sempre esbanjou energia, deixando a plateia sem fôlego. Até mesmo as viradas que Charlie faz usando apenas o hi-hat soaram explosivas – às vezes fica difícil acreditar que o cara tem 77 anos.
Após uma sublime versão de “Paint It Black”, o primeiro blues da noite apareceu, “Ride ‘Em On Down”, a música que marca presença em dois pontos distantes da história da banda, lembrando não só os primeiros dias dos Stones como uma banda profissional, como também o mais recente lançamento em estúdio do grupo, o “Blue & Lonesome”. Em seguida chegou o momento de saber qual canção havia ganhado o song vote do dia anterior, a escolhida dos fãs foi “Bitch”, que fez sua segunda aparição na “No Filter”, a primeira foi durante o show em Düsseldorf, no ano passado. A faixa do “Sticky Fingers” é um dos clássicos nos quais os Stones não conseguem dar uma má performance, assim como músicas que sempre aparecem no setlist, a agora rara “Bitch” brilhou forte no último show da atual turnê em solo britânico.
Outro clássico apareceu pela segunda vez em toda a “No Filter”, antes de Londres em 2018, “Beast Of Burden” havia sido tocada como parte do song vote do concerto para o concerto de Munique em 2017. Dessa vez, a performance teve a participação de James Bay, o ato de abertura da noite. O desempenho vocal de Jagger foi melhor no show do ano passado pois aquele era o segundo concerto da história da turnê. Já em 2018, fazendo o possível para alcançar as notas e não sendo fiel à letra original (não que isso vá incomodar um fã de Mick Jagger) como foi no show de quase 1 ano atrás, o vocalista começou a música a plenos pulmões até que Bay entra no palco e acompanha bem a banda no primeiro refrão e inesperadamente para o espectador volta a cantar um pouco depois do que deveria parecendo que iria atravessar o tempo, o que não aconteceu, o jovem cantor fez tudo funcionar. O rapaz mal subiu ao palco e já age musicalmente como um Stone, aprendeu rápido.
Brincadeiras à parte, Bay estava afinado e empolgadíssimo, e fez bonito ao cantar com a maior banda do mundo.
“You Can’t Always Get What You Want” no Twickenham Stadium não teve nenhum dos imprevistos ocorridos no show em Cardiff, no País de Gales, a faixa do “Let It Bleed” ainda é uma das mais esperadas e emocionantes da noite, seguida pela dançante e sensual “Honky Tonk Women”. Em seus momentos nos vocais, Keith Richards continuou apostando na bela mistura entre “You Got The Silver” e “Before They Make Me Run”, onde mostrou que seu vozeirão continua firme e forte. Em seguida foi a vez de Mick Jagger retornar ao palco para a trinca mais genial deste ano, começando com “Sympathy For The Devil”. Adentrem ao salão infernal, a partir daqui, não tem mais volta! Talvez tenha sido essa a sensação da multidão que lotava o Twickenham Stadium quando a icônica percussão ecoou pelo estádio. O que foi escutado no Twickenham foi digno de um registro oficial, apesar de Keith ter demorado para começar seu solo, valeu a pena esperar. O final do clássico de 1968 segue sendo feito de forma mais coesa – mais até do que nos shows em Paris –, lindo de se ver, realmente precisamos de um DVD da “No Filter” com registros de 2018. Agora que todos passaram pelo batismo e estavam aceitos na Corte Infernal, era hora de festejar, e para uma festa nada melhor do que uma música dançante como “Miss You”. A faixa que abre o agora quarentão “Some Girls” segue sendo um dos pontos altos do show. É possível que os Stones façam uma má execução dessa música? Talvez não. Em todos os shows a atmosfera Disco eleva a qualidade do espetáculo, além de contar com lindos e impressionantes de solos de Darryl Jones e Time Ries – que estava melodicamente inspirado no terceiro show da turnê em Londres, outro solo que merece um registro profissional. Após todos os fãs se acabarem na dança era finalmente chegada a hora da música que se mostrou com o passar dos anos o ponto alto de um show dos Stones, a porrada “Midnight Rambler”, outro momento de interação de Jagger com a plateia, mas com 10x mais energia e um grande solo de Ronnie Wood, que desde o último show está solando como se estivéssemos em 2015 durante a Zip Code Tour, aquela excursão teve alguns dos solos mais impressionantes de Wood na música em questão.
A empolgante “Start Me Up” anunciava que o show estava em seus últimos momentos, agora a regra é curtir ao máximo o tempo que resta com os Stones. Tanto o clássico de 1981, quanto “Jumpin’ Jack Flash”, tiveram performances satisfatórias cheias de energia e sem grandes erros, com o indispensável acompanhamento da plateia cantando nas alturas. Até parecia que não tinha como o show não ficar melhor, engano de quem teve esse pensamento, “Brown Sugar” elevou os níveis de empolgação ao máximo e mostrou grande desempenho dos Stones naquela noite, apesar de Keith ter tocado o primeiro acorde do refrão quando na verdade a música estava na ponte, mas foi algo que ficou quase imperceptível com o guitarrista corrigindo o erro rapidamente, nada que atrapalhasse a canção. O show desta terça-feira (19) teve direito até a Karl Denson arriscando diferentes notas em sua interpretação do solo de Bobby Keys. Após alguns minutos de telões azuis, o riff de “Gimme Shelter” ecoa pelo Twickenham Stadium. É isso, as últimas duas da noite. Colocar o clássico de 1969 novamente próximo ao fim do show foi uma jogada de mestre, não tem como colocar em palavras a atmosfera que toma conta do espetáculo. Além de uma grande versão da música em 2018, os fãs londrinos viram e ouviram Sasha Allen abusar do drive em seu momento de brilhar, que voz! Uma pena que no momento em que voltou a cantar com Mick, seu microfone tenha ficado em um volume mínimo por alguns segundos. O refrão de “(I Can’t Get No) Satisfaction” vem como o último “rugido” da plateia em direção ao palco, é impossível não cantar a música que talvez seja o clássico definitivo do Rock ‘N Roll.
O show que encerra a tão esperada leg britânica da “No Filter” mostrou um Twickenham Stadium empacotado de gente! Mesmo assim, não alcançou o número de 100 mil espectadores como na vez anterior a essa, mas como já foi dito em outra resenha, azar de quem não foi. Pois mesmo após quase 56 anos de carreira, os Stones continuam retornando à cidade onde a carreira profissional da banda começou, fazer parte desses eventos, é fazer parte da história da música. Da Eel Pie Island ao maior estádio do sudoeste de Londres, os Rolling Stones deixam a cidade com sensação de dever cumprido.
A turnê agora retorna ao país onde começou, Alemanha! O show no Olympiastadion de Berlim acontece em 22 de junho.
Foto: Dave J. Hogan
Setlist:
1. Street Fighting Man
2. It's Only Rock 'N Roll (But I Like It)
3. Tumbling Dice
4. Paint It Black
5. Ride 'Em On Down
6. Bitch (vote song)
7. Beast Of Burden (Stones e James Bay)
8. You Can't Always Get What You Want
9. Honky Tonk Women
10. You Got The Silver (Keith)
11. Before They Make Me Run (Keith)
12. Sympathy For The Devil
13. Miss You
14. Midnight Rambler
15. Start Me Up
16. Jumpin' Jack Flash
17. Brown Sugar
BIS 18. Gimme Shelter
19. (I Can't Get No) Satisfaction
Foto: The Rolling Stones