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Stones fazem show impecável em Stuttgart

Satisfação total em Estugarda!

Foto: Dominic Pencz

Os Rolling Stones não passavam por Stuttgart, na Alemanha há quase 12 anos, a última vez havia sido em 3 de agosto de 2006, quando tocaram para 45 mil pessoas no Gottlieb-Daimler-Stadion durante a “A Bigger Bang Tour”. O retorno da banda à cidade com um show em 2018 na Mercedes-Benz Arena foi mais uma amostra de que a segunda leg europeia da “No Filter” tem o trabalho de levar os Stones ao encontro de fãs que não os viam há um bom tempo, assim como o retorno às suas origens com a leg britânica. A banda chegou na cidade alemã na manhã de 30 junho, horas antes do concerto, no dia anterior, Mick Jagger e Ronnie Wood ainda estavam em Marselha, França, onde a banda havia tocado em 26 de junho. Em seu último dia na cidade, Mick resolveu explorar o lugar e, claro, foi reconhecido pelos moradores.

O estádio já estava um tanto cheio antes mesmo do ato de abertura, algo que pode ser considerado raro durante a atual leg. Mais uma vez o The Kooks abriu um show para a maior banda do mundo, que assim como a banda que abriu o show anterior dos Stones em Stuttgart, o Simple Minds, empolgou poucos dos espectadores, talvez um número maior do que no show em Berlim. A banda britânica seguiu na sorte de pegar um estádio praticamente lotado para sua apresentação, pelo visto, os 43 mil fãs pagantes seguiram a sugestão de não levar bolsas grandes ao concerto.

 

Os Stones seguem dando início ao show com “Street Fighting Man”, Keith Richards inicia o nervoso riff, Charlie Watts entra um pouco atrasado, mas se recupera de forma quase imperceptível, Ronnie Wood e toda banda de apoio entram na música em seguida, e o inconfundível vocal de Mick Jagger dá largada para a antepenúltima noite de Rock ‘N Roll da turnê. Ninguém foi com muita sede ao pote, o que resultou em uma das melhores execuções do clássico de 1968 durante a “No Filter” – apesar de um pequeno equivoco de Keith durante a música. O final de “Street Fighting Man” continua impressionando por ser tão furioso.

Foto: Dominic Pencz

“It’s Only Rock ‘N Roll (But I Like It)” deu sequência ao espetáculo com Keith mostrando que não estava para brincadeira, quase soltando faísca de sua Gibson, a trinca inicial continuou com uma bela versão de “Tumbling Dice”, uma boa noite para as notas altas de Mick Jagger e para os solos de Ron. Stuttgart escutou uma das melhores versões de “Ride ‘Em On Down”, cover de Eddie Taylor, que a banda vem tocando desde 2017, como uma das músicas (hoje a única) no set que promovem o mais recente lançamento dos Stones, o “Blue & Lonesome”. A voz de ouro de Keith parece ter retornado para o último show em solo alemão da excursão, sendo parte dos vocais de apoio junto de Chuck Leavell, Bernard Fowler e Sasha Allen em “Let’s Spend The Night Together”, a vencedora do song vote. A faixa do “Between The Buttons” norte-americano foi um dos bons números da noite, a cereja do bolo antes que a banda retornasse às músicas obrigatórias do show foi “Like A Rolling Stone”, que marca presença mais uma vez na “No Filter”, a versão do show na Mercedes-Benz Arena teve direito a Mick Jagger invocando o vocal de Bob Dylan ao fim do verso “As you stare into the vacuum of his eyes”.

Quando “You Can’t Always Get What You Want” estava em suas primeiras sessões em 1968, a banda provavelmente nem imaginava o quanto esta seria uma música crucial para interação com o público em grandes estádios, o público em Stuttgart que o diga, um rugido em direção aos Stones enquanto a plateia cantava o imortal refrão, em uma das mais belas interpretações da canção. Keith realmente estava em uma boa noite, o que ficou claro em “Paint It Black”, o guitarrista nem precisou “aquecer” como vem fazendo em alguns shows desde o ano passado, a introdução de um dos clássicos absolutos dos Stones ecoou pelo estádio para dar início à uma feroz performance. “Honky Tonk Women” não ficou para trás, Mick Jagger fez uma boa harmonia para acompanhar Bernard e Sasha, que passam a ser os lead singers durante o refrão. A que pode ser vista como a primeira parte do setlist sempre termina com as apresentações de quem está cantando e tocando no palco, mas antes, Mick fez piada sobre o setlist da banda dizendo: “Estamos tocando aqui pela terceira vez. Toda vez em um estádio diferente. Mas as músicas sempre foram as mesmas”. Sendo anunciado como “Mestre do Kehrwoche”, Ronnie Wood é ovacionado pelo público, assim como Charlie Watts, mas anunciar Keith Richards sempre resulta na maior euforia da noite.

Animado com a loucura do público diante dele, o maior sobrevivente da história do Rock ‘N Roll começou seu set com “You Got The Silver”, que estava talvez em sua melhor forma durante a “No Filter”, uma linda performance de Keef para os alemães. Ronnie foi por outros caminhos no solo, talvez pela dificuldade que tem encontrado para reproduzir o solo baseado no que Keith Richards fazia na “No Security”, que era uma extensão do solo original e que se tornou famoso sendo executado por Ronnie no documentário “Shine A Light” – a Rolling Stones Brasil pede as mais sinceras desculpas a todos que deram um nó na cabeça com esse trecho. Richards estava imponente no show de Stuttgart, também estava esperto sobre as notas que escolhia para suas performances vocais, “Before They Make Me Run” foi executada com força total.

“Sympathy For The Devil” é o início da parte imutável do show – e que show –, a música começa com Charlie Watts relembrando parte do que fazia nas primeiras peformances ao vivo da canção, Jagger volta ao palco com um de seus extravagantes e brilhantes ternos e entoa a letra baseada no livro “O Mestre e a Margarida”, sendo seguido um pouco mais tarde pelo solo de Keith Richards, que estava mais objetivo do que jamais esteve na atual turnê. A compaixão pelo Demônio em solo alemão estava em ótima forma, sem muitas firulas nem solos mirabolantes, apenas uma banda competente em ação. Se “Sympathy For The Devil”, que pode ter seus percalços em algumas noites, foi bem executada, nem é preciso falar o quanto “Miss You” foi espetacular na Mercedes-Benz Arena. Transformando a música em um funk nervoso, Darryl Jones fez um de seus mais melódicos solos e se deixou levar pelo som, no melhor sentido possível. Tim Ries solou de forma que deve ter tocado a alma de cada fã presente no estádio, que músico!

Trecho com solo de Tim Ries | Música completa

A furiosa “Midnight Rambler” segue sendo uma experiência quase orgástica para os que assistem, Ronnie estava pra lá de inspirado, foi uma versão com tudo feito na hora certo, e Jagger continuou com seu show de disposição aos quase 75 anos.

Com uma boa intro e alguns poucos BPMs a mais, “Start Me Up” esteve definitivamente em sua melhor forma durante a segunda leg da “No Filter”, a faixa que abre o “Tattoo You” teve sua execução com muita energia. “Jumpin’ Jack Flash” também foi executada ligada nos 220v, a música estava com força em Marselha, mas em Stuttgart o Rock direto dos Stones apareceu em melhor forma e com Jagger não tendo problemas com o retorno. Charlie Watts não teve pena da bateria e tocou perfeitamente as duas músicas com maior velocidade. Keith, Mick e Ronnie quase atravessaram o tempo em alguns momentos talvez por conta da rapidez. Watts não é qualquer baterista, o cara ainda tem força para mais turnês, esses possíveis shows de 2019 em solo norte-americano (ou seja lá onde for) prometem. O final antes do bis teve uma bela “Brown Sugar”, além de a empolgação de estar diante dos Stones, o público com certeza apreciou a indiscutível competência que a banda apresentou no último show da turnê na Alemanha.

A banda retorna ao palco com a emblemática “Gimme Shelter”, outro triunfo, Richards seguiu esperto, quando seus dedos acometidos pelo tempo (e pela artrose) não conseguiram fazer um bending, o guitarrista logo procurou começar outro solo, que soou melhor e mais sólido do que as escolhas que Keith geralmente faz para “Gimme Shelter”. Sasha Allen foi ovacionada pelo público antes mesmo de chegar ao palco B para sua parte, onde fez uma brilhante performance com poucos percalços pelo caminho. Dificilmente os Stones retornarão à formulação do primeiro setlist da “No Filter”, o que significa que “(I Can’t Get No) Satisfaction” segue sendo o último número da noite, mas o clássico máximo do Rock ‘N Roll foi executado com força semelhante ao show de Marselha, a velocidade a mais até resultou em uma “Satisfaction” menor comparada à do concerto de Berlim. A competência da banda no show de Stuttgart fez valer os minutos perdidos da longa versão ao vivo da música, pouco mais de 7 minutos foram o suficiente para satisfazer os 43 mil ao fim de uma noite onde os Rolling Stones estavam, sem sombra de dúvida, impecáveis.

Foto: Dominic Pencz

Setlist:

1. Street Fighting Man

2. It's Only Rock 'N Roll (But I Like It)

3. Tumbling Dice

4. Ride 'Em On Down (Eddie Taylor cover)

5. Let's Spend The Night Together (vote song)

6. Like A Rolling Stone (Bob Dylan cover)

7. You Can't Always Get What You Want

8. Paint It Black

9. Honky Tonk Women

10. You Got The Silver (Keith)

11. Before They Make Me Run (Keith)

12. Sympathy For The Devil

13. Miss You

14. Midnight Rambler

15. Start Me Up

16. Jumpin' Jack Flash

17. Brown Sugar

BIS 18. Gimme Shelter

19. (I Can't Get No) Satisfaction

Foto: The Rolling Stones

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