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Até mais, East Rutherford!

See you soon!

Foto: Taylor Hill/Getty Images

Depois de quebrarem um jejum de quase 13 anos sem shows em East Rutherford, os Rolling Stones retornaram para matar a saudade dos fãs que lotaram o MetLife Stadium, em Nova Jersey. Mas o show de 1º de agosto de 2019 foi apenas a primeira dose, contando com versões afiadas de clássicos e até uma estrutura de palco que Mick Jagger não voltaria a usar após o primeiro de dois shows no estádio.

 

Quem abriu caminho rumo ao som dos Stones foi Lukas Nelson & Promise of the Real, que estão na estrada desde 2008. A competência musical está no sangue, já que Lukas é filho de Willie Nelson, além disso a Promise of the Real tem sido a banda de apoio de Neil Young desde 2015, elementos que qualificam o grupo para abrir um show da maior banda do mundo. O country está mais do que presente, mas a banda não perde a oportunidade de criar grandes atmosferas em músicas como "Set Me Down On A Cloud", cujo riff até lembra "Happy", dos donos da noite.

 

O espetáculo começou com "Jumping Jack Flash", já mostrando que o show teria um set diferente do primeiro concerto no MetLife Stadium, o melhor a se fazer. Mick Jagger manteve sua ótima performance vocal, enquanto Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood esbanjavam energia durante o clássico. A interessante aparição de "You Got Me Rocking" como segunda da noite voltou para dar ainda mais gás na apresentação, que seguiu com "Tumbling Dice". O clássico de 1972 parece que nunca envelhece para os Stones e muito menos para a plateia, ainda mais com as performances explosivas da banda, até mesmo de Charlie com seus 78 anos de idade. Só nas três primeiras da noite, a banda detonou.

O setlist dos Stones durante a "No Filter" norte-americana foi uma maravilha pelo fato da banda estar sendo muito competente apresentação após apresentação, mas quando algumas surpresas aparecem, a noite fica ainda melhor. A maior de todas durante o segundo show no MetLife Stadium, foi "Harlem Shuffle", cover de Bob & Earl executado pela primeira vez desde 25 de agosto de 1990, quando os Stones tocaram no Wembley Stadium, pela Urban Jungle. "Alguém cruzou dois rios para chegar aqui hoje?" foi a frase que antecedeu o momento em que Mick anunciou que a música seguinte não era tocada pela banda há um bom tempo, pedindo a compreensão do público caso algo desse errado. Mas aconteceu o contrário, mesmo com pequenos problemas de Jagger com seu retorno logo no começo da música, tudo estava no lugar. Mick foi certeiro em notas que talvez nem mesmo o maior fã esperava, sendo auxiliado pelo espetacular Bernard Fowler, desde a turnê de 89 responsável pelas partes cantadas na versão dos Stones por Bobby Womack. Ao lado de "Con La Mie Lacrime", em 2017, este foi o resgate mais raro da "No Filter", com certeza o mais raro durante a turnê norte-americana. A música chegou a ser colocada no song vote, mas pelo visto, a banda, que nem sempre tem interesse em faixas do "Dirty Work", não viu futuro para o cover nas votações, levando-a para o set fixo.

"Monkey Man" foi mais uma vez a vencedora do song vote, mas esta com certeza se trata da versão mais inconstante da faixa do "Let It Bleed" durante a turnê norte-americana, infelizmente. Até mesmo Chuck Leavell pareceu ter dificuldade durante a introdução, em seguida Keith Richards percorreu os mesmos caminhos de Leavell, mas os músicos conseguiram se encontrar na música, o que infelizmente não aconteceu no final, "Monkey Man" encerrou suas aparições na "No Filter" com sua versão menos inspirada. Mas houveram bons pontos, a afinação de Jagger estava acima da média, o solo de Ronnie Wood teve a ótima qualidade que é presença desde a primeira execução da música em 2019, os backing vocals de Bernard Fowler e Sasha Allen, e pela maior parte do clássico, a banda soube guiá-lo, mas infelizmente não foi uma versão "redondinha" como as anteriores.

"You Can't Always Get What You Want" nunca falha em colocar um estádio empacotado de fãs para cantar, melhor ainda quando a banda, logo após uma execução que poderia gerar desconfiança sobre os rumos do show, recobra a boa forma e executa uma belíssima versão. Seguindo o clássico do "Let It Bleed", que neste ano completa cinco décadas de seu lançamento, estava a própria faixa título, abrindo a rápida parte acústica do show. Podendo ser considerada outra surpresa da noite, foi uma ótima dupla para "Dead Flowers", deixando mais um grande estádio com aura de pub durante o set acústico. As trocas de sorrisos entre Keith, Ronnie e Charlie durante "Let It Bleed" mostra que os velhos ainda se divertem no palco.

Com um excelente improviso de Charlie Watts, "Sympathy For The Devil" já começou grandiosa, como se não bastasse ser o clássico que direcionou os Stones para sua maior evolução durante a década de 60. Jagger iniciou sua parte com uma rara falha vocal logo no primeiro verso do clássico, mas soltou a voz em seguida e mostrou que a falha se tratou apenas de um caso isolado, Mick ainda tinha muito vocal para gastar até o fim do show. Richards demorou para começar seu solo, o que resultou em sua parte sendo maior na música, mesmo assim, não foram muitas as notas feitas pelo guitarrista, mas todas foram escolhas certeiras para incendiar o público. O final de "Sympathy" foi um show de longevidade de Mick Jagger, mas o próprio show dos Stones já é isso.

O que Chuck Leavell não teve em "Monkey Man", teve em "Honky Tonk Women", com um belo solo em seu teclado, antes a execução do single de 69 também teve, claro, o imortal solo de Keith Richards. Logo após, Mick Jagger não se alongou muito antes de chamar os nomes de todos que estavam tocando e cantando no palco, mas brincou rapidamente perguntando se haviam fãs dos times de futebol americano daquela temporada, além de fazer uma referência ao episódio onde os Stones não foram reconhecidos por uma funcionária do Tick Tock Diner. "Antes de eu ir para o meu pork roll na minha cabine habitual do Tick Tock Diner – eu não percebi que isso se tornaria algo, mas é engraçado –, eu gostaria de apresentar todos que estão aqui em cima cantando e tocando esta noite", disse Jagger.

Keith assumiu o microfone agradecendo por uma camiseta que aparentemente foi entregue pelos fãs argentinos, após entregar o presente a um roadie, Richards entrou em "You Got The Silver", acertando o tempo com Ronnie Wood, que fez um lindo acompanhamento para a introdução como os fãs esperam. Bem humorado como no último show, Keith usou sua experiência para se encontrar na música independentemente do que aconteça, assim, nenhuma das inconstâncias durante o blues o atrapalhou, mas as imperfeições nem sempre são um problema, como foi o caso de "You Got The Silver" em East Rutherford, o charme está em tirá-las de letra. Desta vez, ambas as músicas do set cantado pelo guitarrista ficaram pau a pau, com "Before They Make Me Run" não falhando em entregar a energia de sempre, contando até com uma rara virada de Charlie ainda durante a introdução, uma das melhores escolhas do baterista em toda a noite.

 

"É realmente ótimo estar de volta a esse maravilhoso estádio, está começando a parecer com um lar." – Mick Jagger

Mick Jagger voltou ao palco com uma versão um pouco mais enérgica de "Miss You", o maior groove da noite foi de competência máxima, até mesmo nas partes em que a banda fez diferente. Charlie não ficou apenas no hi-hat e no bumbo durante a ponte, enquanto Mick estava na passarela, Watts usou a caixa, algo atípico durante essa parte da música, mesmo assim o clássico não ficou comprometido. Após o falsete de Mick, que nunca falha em empolgar o público, Darryl Jones começa seu solo de baixo, enquanto isso, de longe Sasha Allen vê Jagger chegando para uma de suas danças excêntricas, que nada mais são do que uma diversão entre os dois, algo que se tornou comum em "Miss You", o que sempre felizmente alonga o solo de Darryl. Se essa não for a última turnê dos Stones diferente do que alguns dizem , teremos mais disto na próxima excursão. A empolgação parece ter contagiado Tim Ries, que fez um de seus mais inspirados e virtuosos solos. Vale mencionar também o sorriso de Keith ao escutar Mick cantando "you've been fucking with my mind". Ao final, a plateia ainda teve o prazer de presenciar o final apoteótico criado entre Mick, Chuck e Darryl. Resumindo, uma versão soberba.

O Ronnie Wood impiedoso nos solos de "Midnight Rambler" não tirou folga no segundo show de East Rutherford, muito menos a gaita de voz forte portada por Mick Jagger. Foi perceptível que mesmo fazendo o de sempre, Mick tinha um pouquinho mais de inspiração neste show, sorte de quem presenciou. O vocalista seguiu na tradição de cantar um clássico do blues após fazer a plateia comer em sua mão, dessa vez, Jagger voltou a cantar "Hellhound On My Trail", de Robert Johnson. As músicas de maior duração do show sempre mostram o quanto a banda ainda se entende no palco, mas no segundo show de East Rutherford, a experiência foi potencializada.

O começo do fim chegou com "Paint It Black", é interessantíssimo vê-la nessa posição em 2019, a ausência do clássico de 1966 até os últimos momentos do show passa a impressão de que ainda tem muito mais por vir, embora seja a última trinca antes do bis. O descarregamento de hits continuou, e como já sabemos, não há sinal de raridades na segunda parte do show, mas a vontade de escutar uma exclusividade para o público presente é suprida com a empolgação que toma conta de qualquer estádio com "Start Me Up". No palco, os músicos ou quase todos demonstram que, nos últimos momentos do espetáculo, o trabalho se junta com a diversão.

Em "Brown Sugar", Ronnie Wood usou uma Duesenberg Starplayer, o músico já possui uma do mesmo modelo revestida de madrepérola, a que Wood usou no concerto parece ser o modelo "Duesenberg Starplayer TV Ice Pearl". Diferente da Danelectro '64, Ronnie não teve que "brigar" com a guitarra para acertar o som na introdução, muito pelo contrário, tudo correu muito bem, exceto pelo bend de Ronnie ao fim da música, que segue sendo a perfeita escolha para o fim do show antes do bis.

Com afinação acima do normal, Mick entrou em "Gimme Shelter" com uma voz e tanto, a banda continuou mostrando ainda mais serviço do que nos primeiros momentos do show. A cereja no bolo foi a performance de Sasha Allen, tanto que fica difícil escolher o melhor desempenho da cantora durante o clássico, já que Sasha se superou na leg de 2019 em comparação com seu trabalho junto aos Stones desde 2016. Simplesmente impressionante. Usando de uma presença de palco ainda mais dramática, e aproveitando de sua ótima forma vocal, Jagger se segurou em Allen, que fez o mesmo em Mick, dando ainda mais sentido para o verso "it's just a kiss away". O final contou com Mick tirando alguns sorrisos de Charlie Watts, que foi o responsável por encerrar a balada com suas viradas.

Quem conhece os Stones sabe o que está por vir quando Jagger pergunta à plateia se eles querem "um pouco mais", e fica a cargo de Keith Richards tocar as notas que direcionam o show, de uma vez por todas, para o fim. Foram 7 minutos de "(I Can't Get No) Satisfaction" que fecharam uma noite incrível em East Rutherford, o local que sempre recebeu a banda com entusiasmo, mais uma vez não economizou na emoção, e os Stones, não economizaram na competência. Os telões ainda deixaram um gosto de "quero mais", dizendo "vemos vocês em breve". Que noite.

 

Após a noite, Chuck Leavell se apresentou no The Gramercy Theatre, onde contou com a presença de Charlie Watts, Matt Clifford, Darryl Jones, Karl Denson e Sasha Allen em uma incrível "Honky Tonk Women", em show realizado no dia 7 de agosto, em Nova York.

 

Foto: Greg Allen/Invision/AP

 

Setlist:

1. Jumping Jack Flash 2. You Got Me Rocking 3. Tumbling Dice 4. Harlem Shuffle (Bob & Earl cover) 5. Monkey Man (vote song) 6. You Can't Always Get What You Want 7. Let It Bleed (palco B) 8. Dead Flowers (palco B) 9. Sympathy For The Devil 10. Honky Tonk Women 11. You Got The Silver (Keith) 12. Before They Make Me Run (Keith) 13. Miss You 14. Midnight Rambler 15. Paint It Black 16. Start Me Up 17. Brown Sugar BIS 18. Gimme Shelter 19. (I Can't Get No) Satisfaction

Foto: The Rolling Stones

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